14.8.20

Deus é meu pastor, não me faltará

O Salmo 23 é um dos mais belos da Bíblia. Nele está toda confiança que se pode depositar em Deus.

Este Salmo faz parte da oração na sinagoga judaica e é recitado (cantado) no fim do Ofício de Cabalat Shabat, que significa recebimento do sábado.

Quando realizam esta oração, os judeus utilizam com relação a Deus o título de Adonai que significa meu Senhor.

A história deste Salmo representa confiança e esperança em Deus. Quando David o compôs, ele vivia um dos mais perigosos e desencorajadores períodos de sua vida. Era um fugitivo derrotado, fugindo do rei Saul e seu exército.

Naquele momento, ele se embrenha no deserto da Judeia e diante de toda a esterilidade e solidão do deserto, compõe este belíssimo hino de confiança em Deus. David sente que diante daquela imensidão de deserto que parece nada existir, está Deus que sempre está conosco em qualquer dificuldade de nossa vida. Ele não nos abandona nunca.

David não limita sua inspiração a si próprio; mas a utiliza para cantar para todo o povo de Israel, recordando como Deus proveu toda nação através dos quarenta anos vividos no deserto.

Este Salmo é recitado após lavar as mãos e antes das bênçãos, ao término das refeições.

A guematria (ciência dos números), explica a ligação entre o Salmo 23 e a refeição. O Salmo contém 57 palavras, que é o mesmo valor numérico da palavra Zan, alimento. A interpretação, segundo a guematria acrescenta, ainda, que o Salmo contém 227 letras, o equivalente numérico da palavra (Brachá), bênção. Os que recitam este Salmo e vivem de sua mensagem serão sempre abençoados com muitas bênçãos.

Conta a tradição Judaica que David escreveu a maioria dos seus Salmos, inspirado pelo Santo Espírito (Rúach Ha-Kodesh), quando a harpa pendurada sobre sua cama tocava, à meia-noite, ao sopro de um vento do norte. David despertava e começava a compor. Ainda segundo a tradição, as cordas dessa harpa eram feitas do intestino do cordeiro oferecido em sacrifício a Deus por Abraão, em lugar de seu filho Isaac, no monte Moriá.

A tradução deste Salmo, através dos séculos tem escondido ou deturpado o seu verdadeiro significado. Trazemos para você a riqueza da linguagem deste Salmo, quando o traduzimos em sua essência original hebraica.

Tenho muito respeito pelos tradutores da Bíblia de Jerusalém, mas neste salmo eles deixaram muito a desejar.

Vejamos a tradução do Salmo 23, segundo a Bíblia de Jerusalém.

“O Senhor é meu pastor, nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos, guia-me mansamente a águas tranquilas. Refrigera minha alma; guia-me por veredas de justiça, por amor do seu nome. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque Tu estás comigo. A tua vara e teu cajado me consolam. Preparas uma mesa, perante mim na presença dos meus inimigos. Unges a minha cabeça com óleo; meu cálice transborda. Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão, todos os dias da minha vida. E habitarei na casa do Senhor por longos dias”. (Tradução da Bíblia de Jerusalém- Edições Paulinas, 4a. reimpressão, 1989).

Apresentaremos agora a verdadeira tradução, com comentarios, para que você possa comparar.

“Deus é meu pastor não me faltará”. Todos os tradutores levam esta primeira frase do Salmo para um sentido que muda completamente o que realmente David quis dizer. David, na verdade está dizendo: “Deus é meu pastor, não me faltará”. Todos teimam em traduzir “nada me faltará”, como se Deus fosse apenas um provedor das coisas materiais que precisamos, no entanto, aqui significa que é o próprio Deus quem não nos faltará. É o próprio Deus que nos assiste na dificuldade. É o próprio Deus a nos prover de tudo que necessitamos principalmente as necessidades espirituais.

É necessário ressaltar ainda que todos os verbos desse salmo estão no futuro, embora a maioria dos tradutores os coloquem no presente.

Naquela época, os hebreus eram um povo, que tinha como principal atividade cuidar de rebanhos e essa imagem do pastor é colhida no âmago de sua vida cotidiana. Da vigilância do pastor dependem a saúde dos rebanhos e a prosperidade da tribo.

O pastor é o símbolo da proteção, é ele quem conduz as ovelhas para o abrigo por ocasião do tempo inclemente e é quem as defende contra animais e bandidos. O título de pastor era dado aos reis e deuses. David era pastor e matou leões e ursos para defender seu rebanho. (I Sm 17: 34-37). Jacó foi pastor (Gn. 31: 38-41). O Cristo se intitulou o Bom Pastor.


Severino Celestino da Silva - Jornal Correio Espírita

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