10.12.25

DEUS E A HUMANIDADE

TOBIAS BARRETO de Menezes *
 
− Pára! − repete a voz − Espera! Aguça o ouvido!... −
O homem prossegue, entanto, a passo turbulento...
− Pára ! Não sigas mais ! Ouve ! Sê comedido!... −
Ele teima, rebelde, e vara a sombra e o vento...
 
− Pára ! Detém-te, agora ! Escuta, precavido!... −
Desce a noite profunda e invade o firmamento...
− Pára! Que já retumba o funesto alarido!... −
7        E rosna o temporal pelo bulcão violento...
 
8        − Pára! Atende afinal! Busca a bênção da prece!.... −
Mas o surdo viajor ri-se e desobedece,
Satiriza, gargalha e afronta o céu vulcâneo....
 
Como quem foge à voz do socorro divino,
Avança para a dor do seu próprio destino...
14        E mais além um raio espedaça-lhe o crânio...
 
(*) Chefe da chamada “Escola do Recife”, o poeta sondoreiro de Dias e Noites deixou uma obra vasta e imponente. Para Exupero Monteiro, da Academia Sergipana de Letras “Tobias foi um poeta de grandezas e ternuras”, salientando que “ a dúvida religiosa foi uma das constantes da sua amargurada existência” (T. Barreto, pág. 30).
Cultura polimórfica e profunda, escreveu sobre Filosofia, Direito, Literatura, Música, “abrindo novos caminhos à vida espiritual do país”, no dizer de Edgard Cavalheiro. Figura de destaque na Faculdade de Direito de Recife. Lente da Universidade Livre, de Francfort, em 1881.
Patrono da cadeira nº38, na Academia Brasileira de Letras, pertenceu, ainda, ao Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano.
Esforçado paladino da imprensa, colaborou em vários peródicos em Recife, tendo fundado e redigido muitos outros.
Orador ,crítico, polemista e perfeito conhecedor de meia dúzia de línguas, Armindo Guaraná considerou-o “o maior dos sergipanos pelo talento e pela erudição”. (Campos, atual Tobias Barreto, Est. De Sergipe, 7 de junho de 1839 − Recife, Est. De Pernambuco, 26 de junho de 1889.)
BIBLIOGRAFIA: Dias e Noites; Estudos Alemães; Discursos;etc.
8.     Feliz emprego do verbo rosnar, depois de retumbar o funesto alarido.
9.    Anáfora: “Pára!” − no começo de 5 versos.
14. Excelente estudo do livre arbítrio humano e do determinismo das Leis Divinas, realçado pela conhecida tendência filosófica do Autor.
Livro: “Antologia dos Imortais” - Psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.

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