"Incidente em Antares" é o último romance de Érico Veríssimo, publicado em 1971, utilizando o Realismo Fantástico para fazer uma contundente sátira social e política do Brasil, especialmente no contexto que antecedeu e acompanhou a ditadura militar.
O livro narra a trajetória da cidade fictícia de Antares, no Rio Grande do Sul, desde sua fundação até 1963. Em dado momento, na véspera do golpe militar, ocorre uma greve geral que paralisa completamente a cidade de Antares, incluindo os serviços essenciais, como o cemitério.
Naquele dia, sete pessoas morrem na cidade. Como os coveiros aderiram à greve, os sete caixões foram abandonados em frente ao cemitério, sem poderem ser sepultados. Devido à decomposição e à ameaça à saúde pública, os mortos, em um fenômeno inexplicável e cômico, se levantam de seus caixões e marcham até o coreto da praça principal.
Os "defuntos" se tornam a voz da cidade, exigindo que a greve termine para que possam ser enterrados. Após o ultimato dos falecidos, a pressão pública e a vergonha forçam a prefeitura a ceder e a greve é suspensa, de modo que os sete defuntos puderam ser finalmente sepultados.
Em um ato de "operação borracha", as autoridades e a elite de Antares trabalham para encobrir e desmentir o ocorrido, alegando que tudo não passou de alucinações coletivas ou uma jogada de marketing. O medo do escândalo e a necessidade de preservar as aparências fazem com que a população rapidamente "esqueça" o incidente.
Outro incidente, porém, acompanha a humanidade há muitos séculos: o incidente da imortalidade.
Apesar de muitos povos e culturas pregarem em contrário, o mundo ocidental, de maneira geral, entronou o materialismo e seus diversos mecanismos de perpetuação para negar a continuidade da vida.
Alude-se um céu beneplácito ou um terrível inferno depois da morte e fica por aí mesmo, ou seja, promete-se eternamente as graças celestiais ou terrores satânicos. Não há muita escolha.
No século XIII, a Igreja Católica Apostólica Romana instituiu o dia 2 de novembro como o dia de finados, dedicados a rezar por aqueles que estivessem num processo de purificação no purgatório – um lugar extrafísico criado para abrigar os que não tinha os créditos suficientes para entrar no céu nem os pecados beligerantes para ser condenado ao fogo do inferno.
Na verdade, a Igreja Católica apenas oficializou uma prática iniciada no século X pelo Abade beneditino do Mosteiro de Cluny, na França, Odilon, que veio posteriormente a se tornar santo. Santo Odilon fixou em 2 de novembro o dia para ser dedicado à comemoração de todos os fiéis defuntos.
Com a vinda dos portugueses para o Brasil no século XVI e a imposição do Catolicismo como religião oficial do Estado, o tempo se encarregou de consolidar esta data como consagrada aos defuntos.
O fato é que esta data é uma iniciativa católica que se enraizou na cultura ocidental.
Ocorre, no entanto, que os defuntos que sempre deram o seu ar da graça na história da humanidade, resolveram se rebelar e numa espécie de invasão organizada saíram das suas sepulturas, à exemplo de Antares, para afirmarem que não morreram, mas apenas se transferiram de endereço.
As vozes dos defuntos em greve pelo restabelecimento da verdade da imortalidade do ser foram ouvidas em diversos lugares entre os séculos 18 e 19: as conversas espirituais de Emmanuel Swedenborg, na Suiça, em 1743; o caso das Irmãs Fox e os fenômenos de Hydesville, nos Estados Unidos, em 1848; a disseminação dos fenômenos das mesas girantes e falantes na Europa, nos anos 50 e 60, do século XIX; a sistematização do pensamento dos espíritos por Allan Kardec, a partir de 1857, na França, e muito mais.
A revolta dos defuntos, desde então, não parou mais.
Aproveitando-se de um tal de Chico Xavier, no Brasil, no século XX, é que eles se aproveitaram para contar “tim-tim por tim-tim” as coisas desse mundo de lá. Tinha até correio espiritual com a entrega de cartas dos defuntos para seus parentes.
Os defuntos dos europeus encontraram na Terra da Santa Cruz os defuntos dos índios, negros, ciganos e toda uma gente que morava no lado de cá do planeta. Juntaram as forças para fortalecer a sua revolta.
Apesar das inúmeras evidências, tem gente que insiste em passar a borracha nesta patente realidade, afirmando ser coisa do diabo, problema psiquiátrico ou pura charlatanice, pois morreu, pereceu.
A admissão da imortalidade do ser altera completamente a maneira de ler a realidade e promove uma mudança de paradigmas sem precedentes derrubando preconceitos, concepções, teorias, crenças...
Uma delas a de que defunto tem dia. Tem dia não, meu senhor!
O culto aos mortos, que é uma atitude venerável e de muitas culturas, no entanto, não se resume a um dia e tampouco se reivindica a passagem do purgatório para um lugar melhor. Dia de defunto – e este é o grande motivo do motim do além – é todo dia. Porque é todo dia que a memória desperta os momentos marcantes que tivemos com eles e é todo dia que o coração se enche de um aperto de saudade indescritível.
Os defuntos batem as portas das mesas mediúnicas todos os dias para nos lembrarmos que sua rebelião somente terá fim quando for admitido e praticado a normalidade do sempre existir.
Para a filosofia espírita esta comemoração de dia de finados, de certo modo, se torna inócua, haja vista que na bula espírita somente existe espaço para a vida. Vida antes de vir ao corpo físico, vida no corpo físico e vida depois da morte.
Como lembra a composição popular, “amigo é coisa pra se guardar no lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância digam não”.
Carlos Pereira - Blog de Carlos Pereira.
O livro narra a trajetória da cidade fictícia de Antares, no Rio Grande do Sul, desde sua fundação até 1963. Em dado momento, na véspera do golpe militar, ocorre uma greve geral que paralisa completamente a cidade de Antares, incluindo os serviços essenciais, como o cemitério.
Naquele dia, sete pessoas morrem na cidade. Como os coveiros aderiram à greve, os sete caixões foram abandonados em frente ao cemitério, sem poderem ser sepultados. Devido à decomposição e à ameaça à saúde pública, os mortos, em um fenômeno inexplicável e cômico, se levantam de seus caixões e marcham até o coreto da praça principal.
Os "defuntos" se tornam a voz da cidade, exigindo que a greve termine para que possam ser enterrados. Após o ultimato dos falecidos, a pressão pública e a vergonha forçam a prefeitura a ceder e a greve é suspensa, de modo que os sete defuntos puderam ser finalmente sepultados.
Em um ato de "operação borracha", as autoridades e a elite de Antares trabalham para encobrir e desmentir o ocorrido, alegando que tudo não passou de alucinações coletivas ou uma jogada de marketing. O medo do escândalo e a necessidade de preservar as aparências fazem com que a população rapidamente "esqueça" o incidente.
Outro incidente, porém, acompanha a humanidade há muitos séculos: o incidente da imortalidade.
Apesar de muitos povos e culturas pregarem em contrário, o mundo ocidental, de maneira geral, entronou o materialismo e seus diversos mecanismos de perpetuação para negar a continuidade da vida.
Alude-se um céu beneplácito ou um terrível inferno depois da morte e fica por aí mesmo, ou seja, promete-se eternamente as graças celestiais ou terrores satânicos. Não há muita escolha.
No século XIII, a Igreja Católica Apostólica Romana instituiu o dia 2 de novembro como o dia de finados, dedicados a rezar por aqueles que estivessem num processo de purificação no purgatório – um lugar extrafísico criado para abrigar os que não tinha os créditos suficientes para entrar no céu nem os pecados beligerantes para ser condenado ao fogo do inferno.
Na verdade, a Igreja Católica apenas oficializou uma prática iniciada no século X pelo Abade beneditino do Mosteiro de Cluny, na França, Odilon, que veio posteriormente a se tornar santo. Santo Odilon fixou em 2 de novembro o dia para ser dedicado à comemoração de todos os fiéis defuntos.
Com a vinda dos portugueses para o Brasil no século XVI e a imposição do Catolicismo como religião oficial do Estado, o tempo se encarregou de consolidar esta data como consagrada aos defuntos.
O fato é que esta data é uma iniciativa católica que se enraizou na cultura ocidental.
Ocorre, no entanto, que os defuntos que sempre deram o seu ar da graça na história da humanidade, resolveram se rebelar e numa espécie de invasão organizada saíram das suas sepulturas, à exemplo de Antares, para afirmarem que não morreram, mas apenas se transferiram de endereço.
As vozes dos defuntos em greve pelo restabelecimento da verdade da imortalidade do ser foram ouvidas em diversos lugares entre os séculos 18 e 19: as conversas espirituais de Emmanuel Swedenborg, na Suiça, em 1743; o caso das Irmãs Fox e os fenômenos de Hydesville, nos Estados Unidos, em 1848; a disseminação dos fenômenos das mesas girantes e falantes na Europa, nos anos 50 e 60, do século XIX; a sistematização do pensamento dos espíritos por Allan Kardec, a partir de 1857, na França, e muito mais.
A revolta dos defuntos, desde então, não parou mais.
Aproveitando-se de um tal de Chico Xavier, no Brasil, no século XX, é que eles se aproveitaram para contar “tim-tim por tim-tim” as coisas desse mundo de lá. Tinha até correio espiritual com a entrega de cartas dos defuntos para seus parentes.
Os defuntos dos europeus encontraram na Terra da Santa Cruz os defuntos dos índios, negros, ciganos e toda uma gente que morava no lado de cá do planeta. Juntaram as forças para fortalecer a sua revolta.
Apesar das inúmeras evidências, tem gente que insiste em passar a borracha nesta patente realidade, afirmando ser coisa do diabo, problema psiquiátrico ou pura charlatanice, pois morreu, pereceu.
A admissão da imortalidade do ser altera completamente a maneira de ler a realidade e promove uma mudança de paradigmas sem precedentes derrubando preconceitos, concepções, teorias, crenças...
Uma delas a de que defunto tem dia. Tem dia não, meu senhor!
O culto aos mortos, que é uma atitude venerável e de muitas culturas, no entanto, não se resume a um dia e tampouco se reivindica a passagem do purgatório para um lugar melhor. Dia de defunto – e este é o grande motivo do motim do além – é todo dia. Porque é todo dia que a memória desperta os momentos marcantes que tivemos com eles e é todo dia que o coração se enche de um aperto de saudade indescritível.
Os defuntos batem as portas das mesas mediúnicas todos os dias para nos lembrarmos que sua rebelião somente terá fim quando for admitido e praticado a normalidade do sempre existir.
Para a filosofia espírita esta comemoração de dia de finados, de certo modo, se torna inócua, haja vista que na bula espírita somente existe espaço para a vida. Vida antes de vir ao corpo físico, vida no corpo físico e vida depois da morte.
Como lembra a composição popular, “amigo é coisa pra se guardar no lado esquerdo do peito, mesmo que o tempo e a distância digam não”.
Carlos Pereira - Blog de Carlos Pereira.
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