13.8.24

ADEUSES DE SAUDADE

F. MANGABEIRA (FRANCISCO Cavalcanti MANGABEIRA) *
 
Olhando a Terra envolta em sombra escura,
Fico a cismar sozinho na saudade...
O’ Galera da Vida, que procura
O teu giro na luz da imensidade?
 
5.      Vejo o assomar de cenas vis e insontes
Do palco de mim mesmo ressurgidas.
Nos brilhos festivais dos horizontes
Decifram-se mistérios de outras vidas.
 
9.       Recordo os dias tristes e risonhos...
10.   No presente, o passado entre em conflito...
      Na teia luminosa de mil sonhos,
O meu pensar desmaia no Infinito...
 
13.  Doces notas ecoam delicadas...
Há lira oculta além dos promontórios
Das nuvens de outras terras, espalhadas
Por alfombras varando espaços flóreos.
 
Vastos campos de dores e prazeres
Entreabrem-se ao mundo e aos corações.
19.    A carícia da fé embala os seres,
E as almas são repuxos de orações.
 
Em toda a parte o amor vibra e esplendora...
A vida – movimento de beleza –
Revela o eterno bem estrada afora
Em cada pulsação da Natureza.
 
Quais belos focos de esperança,
Almas libertas tomam novo alento.
Do Amor Sem Fim derrama-se a bonança...
EM tudo há melodia e encantamento...
 
Terra! Galera ao sol, luta e porfia!
Guarda contigo a Grande Humanidade!
Homens! Canta a festa da alegria,
Enquanto choro adeuses de saudade!...
 
(*) Médico, jornalista e poeta. Viveu uma existência agitada e heróica. À maneira de Luís Delfino, soube associar a Medicina à Poesia, até que a morte o colheu, em viagem, depois de servir na libertação do Acre, vítima de terrível polinevrite palustre. Agripino Grieco coloca-o entre os poetas do “nosso segundo parnasianismo”. Nélson Werneck Sodré, por outro lado, situa-o entre os poetas menores do romantismo. Tem a poesia de Francisco Mangabeira, segundo Américo de Oliveira, “eloquentíssimos êxtases passionais, e todos os sentimentos assumiram elevações verdadeiramente inéditas”  (apud A. Diniz, Francisco Mangabeira, pág. 207). Patrono, na Academia de Letras da Bahia, da cadeira nº 70. (Salvador, Bahia, 8 de fevereiro de 1879 – A bordo do paquete S. Salvador, na altura de Gapuri, entre Belém e S. Luís, 27 de janeiro de 1904.)
BIBLIOGRAFIA: Hostiário; Tragédia Épica, poema; Últimas poesias; além de inéditos.
5.      Entenda-se “Vejo o assomar de cenas vis e insontes / ressurgidas do palco de mim mesmo”.
9-13 Ler com sinérese: di/as e e/co/am. Atente-se, ainda, no hipérbato: “Doces notas ecoam delicadas...”
10.  Antítese
19.  Leia-se com hiato: fé/ em/ba/la
Livro: Antologia dos Imortais - Francisco C. Xavier e Waldo Vieira

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