30.7.24

ADEUS

Francisca Júlia da Silva*
 
Na agonia da luz o astro-rei purpurina...
Leves tarjas de noite a manchar o horizonte...
Uma estrela a piscar remove a névoa fina
E espelha-se, feliz, no regato defronte...
 
Soluça um pombo além e se alteia e se inclina
E voa sem que o Sol novo rumo lhe aponte...
Humilde rola chora a gemer na campina,
Alheia ao prado em flor e à carícia da fonte...
 
Chega a sombra afinal... Aparece a tristeza
No arrulho que ficou por gemidos em bando,
Quais cordas a estalar numa lira retesa... ;
 
Assim, num dia assim, a morrer sem alarde,
Chorando eu disse adeus e ele partiu chorando,
A renascer na Terra onde estarei mais tarde...
(*) Conquanto apresente a poesia de F J alguns defeitos formais, é considerada a maior poetisa parnasiana, «maravilhoso poeta, um dos mais originais do Brasil», no dizer de Vicente de Carvalho (citado no Pan. III, pág. 248). Versejou em importantes periódicos de S. Paulo, e na A Semana, do Rio. João Ribeiro, Olavo Bilac, Agrippino Griego e até mesmo Machado de Assis teceram largos elogios aos versos de Francisca Júlia, versos que plasmaram o ideal extremo da beleza, segundo as palavras de Manuel Bandeira (apud Dic. Aut. Paulistas, pág. 580). Em torno de sua desencarnação, diz Péricles Eugênio da Silva Ramos: «O que de positivo pude apurar, ouvindo testemunhas até oculares, foi que no dia da morte de Edmundo (Filadelfo Edmundo Munster) a poetisa se retirou para repousar. E não mais acordou, apesar dos esforços médicos para reanimá-la, vindo a falecer na manhã do dia do enterro do marido.» (Poesias, pág. 21.) (Xiririca, atual Eldorado, Est. de S. Paulo, 31 de Agosto de 1874 (1871?) – S. Paulo, 1º de Novembro de 1920.)
BIBLIOGRAFIA: Mármores; Esfinges; etc.
Livro: Antologia dos Imortais - Francisco C. Xavier e Waldo Vieira.

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