26.2.24

O Espiritismo e a Quaresma

Criada no ano de 325 durante a realização do Concílio de Niceia, a Quaresma faz parte da tradição da igreja católica, embora a igreja anglicana e algumas denominações protestantes também adotem como um período litúrgico de preparação para a festa da Páscoa.
Quaresma vem do latim Quadragesima, que significa quarenta dias, e é dedicada a uma profunda disciplina de ações em respeito ao sofrimento futuro de Jesus.
Começa, oficialmente, no dia imediatamente depois do carnaval e é, por isso mesmo, denominada de Quarta-Feira de Cinzas. Neste dia, recomenda a Igreja Católica que haja a abstinência do consumo de carne, o jejum e a penitência.
A colocação das cinzas sobre a cabeça do adepto representa, no simbolismo católico, o seu reconhecimento como pecador e o trabalho interior de libertação dessa condição.
Estimula-se, neste período, além da penitência, a intensificação das orações, a prática da caridade, a leitura de um livro da bíblia e o combate de um vício.
É uma interessante tradição que promove exercícios de introspecção e vivência de práticas espiritualizantes na concepção do Catolicismo Romano.
E o espírita também se insere nesta tradição?
O Espiritismo, segundo o sistematizador do pensamento espírita, Allan Kardec, é uma ciência e uma filosofia com consequências éticas, morais e religiosas – mas não se trata de uma religião constituída.
Não sendo uma religião não possui hierarquias, sacramentos, liturgias, rituais e outras características das religiões oficiais.
Ao chegar ao Brasil, no entanto, na metade do século 19, o pensamento espírita foi desenvolvido numa sociedade fundamentalmente de formação católica.
Inevitável, naquela época, algumas assimilações, mas hoje não é mais aceitável que seus simpatizantes misturem, aqui e acolá, consciente ou inconscientemente, costumes da Igreja Católica. Mais: que tragam traços da ideologia católica para dentro dos grupos espíritas.
A ética da alteridade nos aconselha o respeito ao pensamento de todas as denominações religiosas, porém, o Espiritismo não pode ser confundido como um tipo de crença católica renovada que aceita a mediunidade e a reencarnação. Definitivamente, não é.
É até compreensível, no mesmo rastro do raciocínio alteritário, que alguns simpatizantes do Espiritismo tenham afinidade com certos costumes enraizados na cultura brasileira, a absorção, entretanto, destas tradições no âmbito das casas espíritas representa tremendo equívoco doutrinário.
De igual modo a comemoração da Páscoa.
O estudo metódico da filosofia espírita proporciona a libertação de concepções simbólicas e de mistérios e incentiva um novo modo de pensar e agir, onde cada pessoa é protagonista da sua existência e da mudança que interpreta ser importante produzir no seu comportamento.
Que cada um pratique a sua fé como achar melhor e ninguém, absolutamente ninguém, tem a ver com isso. Os princípios fundamentais de cada saber, entretanto, devem ser apresentados na caracterização da sua identidade e isso não representa preconceito contra o saber do outro ou puritanismo doutrinário.
Aos que se sentem bem com a tradição da Quaresma e da Páscoa católicas que as pratiquem em rigorosa sintonia com as suas consciências e que sejam pessoas melhores e felizes.
Carlos Pereira - Blog de Carlos Pereira

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