10.2.24

Folia da Alegria

Ao despertar, neste dia, muitos foliões saem às ruas a cantar e a dançar.
- Finalmente, chegou o grande dia! – Ou os dias que irão reinar outro senhor, o Rei Momo.
Essa constatação invade a alma de muita gente que, enfim, terá como extravasar as suas angústias, os seus medos, a sua própria índole adormecida.
Os dias de carnaval devem ser dedicados a expulsar os demônios interiores pelo mecanismo bendito da dança e do canto. Em outras palavras, usar a terapêutica da alegria para se contagiar de amor e segurança de viver.
Este expediente, porém, muitas vezes é criticado por aqueles que não entendem este mecanismo de transformação das emoções doentias em novo alento para viver.
É assim que vejo o carnaval: o momento de transfusão interior que sai da angústia para a alegria de viver.
Há pessoas, no entanto, que não expulsam os seus demônios interiores, ao contrário, os alimenta e incentiva a aproximação de outros.
Isto, sim, é danoso para a alma.
Não é o que o carnaval proporciona, é o que se promove utilizando como pano de fundo esta festa popular.
Via – e vejo – no coração do meu povo de Pernambuco, onde passei pedaço grande da minha vida carnal – uma estonteante oportunidade de lavar a alma durante a festa de Momo.
Como era – e é – alegre ver um bom maracatu, um passo de frevo bem dado, uma cantoria saudosista de tempos idos, ou mesmo um romance esquecido na memória. E muito mais...
Este é o lado bondoso e feliz do carnaval. O encontro de pessoas com outras para juntas brindarem a vida.
Quem não usa dessa festa para este propósito, ele mesmo vai ter de volta o que inadvertidamente semeou.
Portanto, não condenemos a festa, mas aquilo que os desavisados fazem dela.
Sei agora com muito mais detalhes o que ocorre nestes dias. Os excessos são literalmente das duas faixas existenciais. Uma nutrindo-se da outra.
Regalias espirituais à parte na satisfação de prazeres menores ou na extirpação dos vermes da alma, tenho a dizer que o outro lado da folia é estrondosamente mais interessante.
Amores que se fazem nos flertes juvenis.
Mãos que abraçam corpos na divisão da felicidade sem fim.
Pernas que se movimentam em balés imaginários.
O perfume que se exala da alegria, meus caros, é infinitamente mais sensível do que aquele que é obtido das sombras.
Um e outro se entrelaçam porque assim é que é a vida na Terra, sendo ou não carnaval. Apenas, nesta ocasião, permite-se o desabrochar de sentidos até a exaustação para aqueles que desconhecem a realidade do que seja um verdadeiro folião.
Quando os homens e mulheres entenderem que a festa da carne é o encontro com Deus no outro, então estes excessos desaparecerão e, em seu lugar, brindaremos ainda mais esta festa popular.
Acorda, meu povo!
Acorda para afastar as ilusões da vida e, em seu lugar, deixar nascer a verdade espiritual com a abundância que traz na alma um bom frevo canção.
Acorda, meu povo!
Para viver hoje as bênçãos das alegrias futuras.
Acorda, meu povão!
Para viver sem tristeza no bloco da ilusão da vida da matéria e, nela, poder usufruir do espírito santo de Deus que nos habita.
Ave, meu povo querido e festejante!
Helder Camara Blog Novas Utopias

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