6.7.23

A DESENCARNAÇÃO

Na Terra que se desdobra, um homem caminha por uma estrada.
Tomando-se hoje em relação à ontem, a única diferença é que ele se sente um pouco mais leve.
Todavia, não tão leve a ponto de planar na atmosfera algo rarefeita.
Com ele, os mesmos pensamentos e as mesmas emoções.
Além do que sabia instantes atrás, ele pouco consegue saber a respeito de si, e continua a precisar de um nome para se identificar.
A sua condição racial, econômica, sexual e religiosa, não o privilegia em absolutamente nada.
O que o salvaguarda é a consciência tranquila.
Experimenta, porém, certa dificuldade, para, seja na Terra ou no Mais Além, conceber outra vida diversa daquela que sempre teve.
Não lhe parece que entre uma vida e outra, possa haver diferença marcante.
Terra firme sob os pés, céu aberto sobre a cabeça, a Natureza em torno...
Noite e dia, Sol e estrelas!
Olhando para si, tudo lhe parece normal - estará vivenciando um sonho, ou será a realidade?!
Ainda não consegue falar sem articular as palavras...
Tem fome e sede.
O esforço que despende na caminhada lhe ocasiona relativo cansaço.
Onde estarão os seus amigos?...
Ah, sim, ei-los que, aos poucos, vão chegando para saudá-lo.
Porém, a muitos desses amigos ele não tinha oportunidade de ver a longo tempo...
Tem a impressão de que muitas faces se sobrepõem, ou, então, que alguns rejuvenesceram, e que outros envelheceram!
Para ele, o Futuro parece ter chegado, e o Presente ficou no Passado.
Sensações estranhas lhe dão a certeza de que ali, naquela Terra, precisa reaprender quase tudo.
O berço lhe será um túmulo, ou o túmulo lhe será um berço?!
Para ele, é muito difícil dizer exatamente.
Saudade! Mas, em qualquer parte do Universo, a saudade é um sentimento comum a todos os seres, que, em nome do amor, sempre pulsa com a mesma intensidade, em todos os corações.
Sem ponto de referência, ninguém sabe de que lado da margem do rio ele possa estar. Você saberia?!
Além de fome e sede, com o tempo, experimenta desejos, tão humanos e tão divinos quanto os dos homens e os dos anjos.
De repente, integra-se tão completamente ao novo ambiente em que se encontra, que a vida, que, de início, lhe parecia ter sofrido uma interrupção, prossegue com naturalidade.
Olha para cima e vê o Infinito...
Quanto ainda a este homem, que é o espírito desencarnado, ainda compete caminhar, na Terra que se desdobra, para, enfim, transcender a si mesmo?!...

INÁCIO FERREIRA - Blog Mediunidade na Internet

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