3.10.22

DEVER CRISTÃO

                   Rossi e Alves eram diretores de conhecido templo espírita e davam-se muito bem na vida particular. Afinidade profunda. Amizade recíproca. Sempre juntos nas boas obras, integravam-se perfeitamente no programa do bem.
                   Alves, com desapontamento, passou a saber que Rossi, nas três noites da semana sem atividades doutrinárias, era visto penetrando a porta de uma casa evidentemente suspeita, lugar tristemente adornado para encontros clandestinos de casais transviados.
                   Persistindo semelhante situação por mais de um mês, Alves, certa noite, informado de que o amigo entrara na casa referida, veio esperá-lo à saída.
                   Dez, onze, meia-noite...
                   Alguns minutos depois de zero hora, Rossi saiu calmo e o amigo abordou-o.
                   - Meu caro - advertiu Alves, sisudo -, não posso vê-lo reiteradamente neste lugar. Você é casado, pai de família e, além de tudo, carrega nos ombros a responsabilidade de mentor em nossa Casa. Nada podemos condenar, mas você não ignora que álcool e entorpecentes, aí dentro, andam em bica...
                   Rossi coçou a cabeça num gesto característico e observou:
                   - Não há nada. Estou apenas cumprindo um dever cristão.
                   - Dever cristão?
                   - Sim, a filha de um dos meus melhores amigos está freqüentando este círculo. Jovem inexperiente. Ave desprevenida em furna de lobos. Enganada por lamentável explorador de meninas, acreditou nele... Mas a batalha está quase ganha. Convidei-a a pensar. Há mais de um mês prossegue a luta. Hoje, porém, viu com os próprios olhos o logro de que é vítima. Acredito que amanhã surgirá renovada...
                   E ante os olhos desconfiados do amigo:
                   - Você sabe. É preciso agir, sem rumor, sem escândalo. Quem sabe? Talvez em futuro próximo a invigilante pequena possa encontrar companheiro digno. E ser mãe respeitada.
                   Alves riu-se às pampas, de maneira escarninha, e falou:
                   - Vou ver se é verdade.
                   - Não, não!  Não vá! - pediu Rossi, em súplica ansiosa.
                   - Tem medo de ser apanhado em mentira? - disse Alves, com a suspeita no rosto.
                   E sem mais nem menos entrou casa a dentro, encontrando, num pequeno salão, sua própria filha chorando ao pé de um cavalheiro desconhecido...
Livro: "A Vida Escreve" -  Francisco C Xavier e Waldo Vieira - Pelo Espírito Hilário Silva 

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