10.9.20

Caridade beneficente e caridade benevolente

O Campo da caridade é muito vasto; ele compreende duas grandes divisões que, por falta de termos especiais, podem designar-se pelas palavras: Caridade beneficente e caridade benevolente. Compreende-se facilmente a primeira, que é naturalmente proporcional aos recursos materiais dos quais se dispõe; mas a segunda está ao alcance do todo o mundo, do mais pobre ao mais rico. Se a beneficência é forçosamente limitada, nenhuma outra senão a vontade pode pôr limites à benevolência.
O que é preciso, pois, para praticar a caridade benevolente? Amar seu próximo como a si mesmo: ora, amando-se ao seu próximo quanto a si mesmo, se o amará muito; se agirá para outrem como se gosta que os outros ajam para conosco, não se desejará nem se fará mal a ninguém, porque não gostaríamos que no-lo fizessem.
Amar seu próximo é, pois, abjurar todo sentimento de ódio, de animosidade, de rancor, de inveja, de ciúme, de vingança, em uma palavra, todo desejo e todo pensamento de prejudicar; é perdoar os seus inimigos e restituir o bem onde haja o mal; é ser indulgente para com as imperfeições de seus semelhantes e não procurar a palha no olho do vizinho, então que não se vê a trave que está no seu; é ocultar ou desculpar as faltas de outrem, em lugar de se comprazer em pô-las em relevo pelo espírito de denegrir; é ainda não se fazer valer às custas dos outros; de não procurar esmagar ninguém sob o peso de sua superioridade; de não desprezar ninguém por orgulho. Eis a verdadeira caridade, a caridade prática, sem a qual a caridade é uma palavra vã; é caridade do verdadeiro Espírita como do verdadeiro cristão; aquela sem a qual aquele que diz: Fora da caridade não há salvação, pronuncia a sua própria condenação, neste mundo tão bem quanto no mundo espiritual.
Do ponto de vista do interesse egoísta de quem não está ainda pronto para uma abnegação completa, pode fazer o bem, seria digno e teria tudo a ganhar, pois o bem atrai o bem e a proteção dos bons Espíritos; o mal atrai o mal e abre a porta à maldade dos maus. Crer em um Deus todo-poderoso, soberanamente justo e bom é o laço que deve unir todos os Espíritas em uma santa comunhão de pensamentos, à espera que una os homens sob a bandeira da fraternidade universal.
 
Allan Kardec - Revista Espírita - Dezembro de 1868 

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