9.2.20

A NECESSIDADE DO PERDÃO


    Por que guardamos rancor contra os outros? Que ganhamos com isso senão dissabor? É assim que se passa quando nos resguardamos em mágoas contra aquele que nos fere a alma. Somente traz prejuízo a nossa vida guardar no coração o mal que o outro fez. O perdão, antes de ser um elemento de elevação moral, representa um antídoto eficaz contra os males da alma que repercutem no coração e na saúde das pessoas. Amar é sem dúvida o grande caminho e remédio contra as angústias que a ausência de perdão faz provocar naquele que teima em não esquecer o desequilíbrio moral do outro.
     Por que se prender a queda do ignorante do bem? Por que querer se atracar contra aquele que te feriu a alma? Que ganhará com isso?
     Isso se chama vingança e sentimento de vingança é o inverso do amor. "O amor cobre a multidão de pecados", lembrava bem o apóstolo Pedro. Somente o amor consegue abrasar a maior das revoltas anteriores. Sem o perdão sincero do pecado do outro faz-nos atrasar, cada vez mais, no caminho evolutivo de nossas almas perante a saga das nossas vidas.
    Se Deus, o justo por excelência, esquece a falta  daquele que erra, por nós, seus filhos haveríamos de querer adotar um procedimento inverso? Sem querer, fazemos exatamente ao contrário do que estamos destinados. Em vez de seguirmos para a frente, andamos determinadamente para trás. Isto não pode acontecer.
     O caminho de perdão não é tão difícil se entendermos, ou procurarmos entender, as razões pela quais alguém nos cometeu um crime moral.
     O perdão eleva as criaturas para mais próximo do Pai, que nos encoraja para conseguirmos superar no coração a falta cometida contra nós. Sem o perdão, nos igualamos ao nosso desertor. E qual a vantagem de aceitar o Evangelho se permanecemos iguais ao que éramos antes? Se aceitamos o Cristo, necessitamos mudar o nosso comportamento para melhor. Você é o senhor do seu destino e por que não toma logo uma atitude de mudança?
     Todos querem chegar aos céus, imaginam para si o melhor, no entanto, quer que isso ocorra milagrosamente porque não faz qualquer esforço determinado nesta direção. Até o Cristo enfrentou a cruz, e por nós, ainda tão falhos, queremos atingir a angelitude como num passe de mágica?
     Mudar causa um certo desconforto, é bem verdade, causa dor interior, dor na alma. Dor que transforma quando a aproveitamos para refletir com ela. Quando deixamos para lá um cometido contra nós estamos exercitando a mudança de verdade porque estamos enfrentando a nós mesmos, afugentando os sentimentos de vingança e agressividade. O tempo do olho por olho e dente por dente já acabou há bastante tempo. Foi o Nosso Senhor Jesus Cristo que nos trouxe a mensagem do amor, sobretudo o amor aos nossos inimigos. Que mudança nos propõe o Cristo? É uma mudança radical, mudança pra valer. É por isso que não é fácil aceitar o Cristo sem que peguemos a nossa própria cruz. A cruz dos destemperos, dos impulsos agressivos, dos revides automáticos.
     Perdoem, irmãos, mas perdoem de verdade. É um fardo a menos que levaremos quando "morrermos".
Olhe, eu tenho visto tanta gente perturbada do lado de cá, porque não consegue, ou não quer, esquecer o mal que os outros lhe impuseram. E aí se torna um fardo enorme.
     Amemos, como Jesus nos amou. Verdadeiramente, sem subterfúgios. Assim, teremos a graça de nos sentirmos mais aliviados por estarmos mais próximos do Pai Amantísisimo.

Livro: Novas Utopias - Carlos Pereira - Helder Camara

Nenhum comentário:

Postar um comentário