10.10.24

ALÉM DA TERRA

ORLANDO Martins TEIXEIRA *
 
Confio o pensamento a sonho terno,
Em holocausto mudo à Divindade,
E sinto a redenção de todo inferno
Na blandícia da paz que, em luz, me invade.
 
À carícia invisível me prosterno.
6.                 E por mais ruja a treva e se degrade,
Deus fulgura qual facho imenso e eterno,
Suporte vivo da imortalidade
 
Há traços resplandecentes de mil vidas
E destroços das épocas perdidas
No mar turbilhonante de mim mesmo.
 
12.              Seguimos... Eu e o sonho que delivro,
Páginas paralelas de um só livro,
14.              No livro do Universo aberto a esmo...
 
(*) Poeta, dramaturgo e jornalista. Funcionário da Prefeitura Municipal de S. João da Boa Vista. Exerceu o jornalismo no Rio de Janeiro, onde secretariou a Gazeta da Tarde. Segundo Luís Correia de Melo (Dic. Aut. Paulistas, pág. 631), OT “compôs ou traduziu numerosas peças de teatro, principalmente de colaboração com Artur Azevedo, Demétrio de Toledo, Eduardo Vitorino e Moreira Sampaio, sendo de sua autoria o libreto da ópera Ester, do maestro Assis Pacheco”. Afirma Fernando Góes (Pan. IV, pág. 150) que o poeta teve a “vida marcada pelo sofrimento, pela doença, por um amor inatingível”. Andrade Muricy (Pan. Mov. Simb. Brás. II, págs 171-172) dá melhor a conhecer a página amorosa do poeta de “voz roufenha” e “físico infeliz”, “a quem” – segundo as palavras de João Luso – “a tuberculose devorava os pulmões e o amor o coração”. (S. João da Boa Vista, Est. de S. Paulo, 27 de agosto de 1875 – Sítio, atual Antônio Carlos, Minas Gerais, 25 de fevereiro de 1901**.)
BIBLIOGRAFIA: Magnificat.
** Luís Correia de Melo (op. cit., pág. 631) registra 1902 como o ano de desencarnação
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6.                  Elipse: “E por mais (que) ruja...”
12.              Aposiopese: “seguimos...”
14.              Ler assim este verso:
No/ li/vro do U/ ni/verso a/ ber/to a/ es/mo...
Neste soneto, revela-se o poeta pouco afeito aos altos vôos do artesanato poético e, para que possamos observar o quanto OT, ainda encarnado, era distraído quanto à forma, vamos citar-lhe alguns versos alexandrinos, uns trimembres, outros não. De início, cf. o quarto verso do soneto “Horas Mortas” (Pan. IV, pág. 150), com acentuação na 1ª, 4ª, 8ª e 12ª sílabas. Em seguida, cf. “Paisagem Espiritual”, 7º e 8º versos, respectivamente, com acentuação na 3ª, 7ª e 12ª e 4ª, 9ª e 12ª sílabas (id., pág. 151).
Livro: Antologia dos Imortais - Francisco C. Xavier e Waldo Vieira.

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