7.3.23

Espiritismo Inclusivo

Certa vez, uma visitante do nosso grupo espírita avistou um quadro na parede de nosso coordenador espiritual, Pai João de Angola, e comentou:
- Aqui, vocês são misturados, não é?
Tive que explicar a ela que não havia mistura doutrinária na nossa residência de trabalho espírita, mas uma atividade conjunta com todos aqueles espíritos que desejassem efetivamente fazer o bem. Por essa razão, não haveria distinção se o espírito se apresentasse desta ou daquela maneira.
Creio que ela entendeu a explicação, só não sei se mudou a sua concepção inicial de “mistura” das presenças espirituais no nosso ambiente de militância espírita.
Por muito tempo – e ainda hoje em muitas casas espíritas – a presença de pretos e pretas-velhas, caboclos, ciganos e outras “entidades” que fujam à característica cultural europeia e ao formato católico, são imediata e precipitadamente classificadas como antidoutrinárias.
Exus e pombagiras, então, soam como absolutos palavrões.
O etnocentrismo cultural, com pitadas claras de preconceito; associado a ignorância doutrinária, com nuanças evidentes de arrogância; talvez sejam as responsáveis por esse comportamento avesso ao diferente.
Afinal, “Narciso acha feio o que não é espelho”.
Os defensores da pureza doutrinária entram em campo para condenar essas presenças estranhas e as práticas equivocadas. Aparecem como ferrenhos defensores do Espiritismo para que este não seja maculado nos seus princípios.
A questão não é o cuidado, perfeitamente compreensível e necessário, é o exagero, completamente reprovável e dispensável.
O desafio, assim, é encontrar um ponto de equilíbrio entre a liberdade de expressão espiritual e os princípios fundamentais da filosofia dos imortais.
Ele existe, o problema é que a ausência de estudo da base da teoria espírita faz com que muitos, no afã de promover o novo a todo custo, como se diz popularmente, “metem os pés pelas mãos”.
De outra parte, há aqueles que estabelecem regras tão rígidas de funcionamento de uma casa espírita e do seu trabalho mediúnico que até os espíritos têm receio de entrar nela.
Nem oito, nem oitenta!
A justa medida.
Em “O Espiritismo e as Doutrinas Espiritualistas”, Deolindo Amorim faz este esforço para responder sobre os parâmetros do exercício da ciência espirita.
Lembra, por exemplo, que o Espiritismo não tem culto material e ritual; nem prescreve qualquer forma de paramento ou formalismo de função sacerdotal; ou tampouco admite uso de imagens e sinais cabalísticos nem símbolos.
Estas referências devem ser observadas e postas em prática no cotidiano das nossas casas espiritistas.
Estas recomendações valem para todo tipo de espírito dentro das atividades mediúnicas que deve respeitar esta metodologia de trabalho e, se deseja fazer o bem, cabe apenas adaptar as suas práxis.
O que parece claro é que o modelo espírita de trabalho utiliza a força mental e o procedimento de atuação predominantemente espiritual. Nada de artefatos materiais ou ações que fujam à razão e ao bom senso.
Isso não quer dizer que os procedimentos operacionais de outras culturas espirituais não sejam válidos e eficazes. Não é esta a questão que está em discussão. Apenas não é esse o caminho da prática espírita.
E qual a diferença do papel dos médiuns espíritas para os médiuns umbandistas?
Pai João de Angola esclarece oportunamente em “Guardiões do Carma – A Missão dos Exus na Terra”, a importante função dos médiuns de Umbanda:
Os médiuns umbandistas lidam com toda sorte de tropeços, ciladas, mistificações, magias e demandas contra espíritos sumamente poderosos e cruéis, que manipulam as forças ocultas com sabedoria.
Para se resguardar das vibrações e ataques das chamadas falanges do mal, valem-se de elementos da natureza, tais como energias das ervas, das essências, defumações e das oferendas nos diversos reinos da natureza, que são expressões das energias dos Orixás, dos colares imantados e dos rituais de defesa e limpeza da aura física e psíquica, para poderem estar em condições de desempenhar a sua tarefa.
A Umbanda atua no submundo espiritual, sobretudo nestes tempos graves de transição planetária, com extrema competência e desempenha um trabalho especializado que não é afeto ao Espiritismo.
Ambos, Umbanda e Espiritismo, no entanto, se complementam, cada um com a sua especialidade, na grande missão do Cristo de instalação do Reino de Deus na Terra.
Os espíritos que majoritariamente servem a Umbanda, visitam, frequentemente, nosso grupo espírita, diante das demandas trazidas, e sabem exatamente o que podemos contribuir e em que medida eles devem atuar, sem qualquer choque de atuação.
Os mesmos procedimentos utilizados nas sessões de Umbanda – e outros mais - ocorrem na nossa dinâmica mediúnica unicamente no plano espiritual e energético. Para isso, há o estudo permanente para se saber o que se está fazendo e o porquê.
Não há conflito! Há a convergência de interesses para a caridade do necessitado no corpo físico e dos espíritos sofredores que normalmente acompanham os pacientes.
Esta postura tem nome: espontaneidade.
Na mesma linha de investigação adotada pelo professor Rivail, permite-se que o fenômeno mediúnico se manifeste sem o ímpeto da proibição e depois se analisa para tirar as devidas conclusões. É o que denominamos do Modelo dos 4 A: admitir, avaliar, aprender e adotar – o que couber.
Sem o estudo doutrinário prévio, sem a investigação racional do fenômeno e sem a conclusão lógica do fato, realmente, pode-se enveredar num mediunismo inconsequente e na afloração desenfreada do pensamento mágico.
A sabedoria do espírito João Cobu, o Pai João de Aruanda, traz-nos o caminho do meio das experiências extrafísicas quando aconselha à “união sem fusão, distinção sem separação”.
Este é o Espiritismo inclusivo!
Um Espiritismo onde os trabalhadores do bem, em qualquer dimensão, de todas as culturas e lugares, se encontram para o auxílio assistencial ou a aprendizagem da verdade.
Um Espiritismo em perfeita coerência com a mensagem e a prática de Jesus. Alteritário e amoroso por excelência.
Registre-se, oportunamente, essa passagem evangélica para acentuar a defesa desses argumentos (Marcos 9, 38 – 40):
- Mestre, disse João, vimos um homem expulsando demônios em teu nome e procuramos impedi-lo, porque ele não era um dos nossos.
- Não o impeçam, disse Jesus. Ninguém que faça um milagre em meu nome, pode falar mal de mim logo em seguida,
- Pois quem não é contra nós está a nosso favor.
Na nova era do espírito, que já começa a raiar num tempo de regeneração planetária, a fraternidade há de predominar, acima de qualquer sentimento de superioridade, porque será o amor, apenas o amor, o único parâmetro para o exercício pleno da ciência, da filosofia e da religião.
Nesse novo tempo, juntos e misturados, serviremos ao Cristo, em espírito e verdade.
Carlos Pereira - Blog de Carlos Pereira 

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