10.7.22

Muletas

O enfrentamento da vida é difícil, mas superável. Todos somos convidados a participar do banquete da vida com seus altos e baixos, com suas vantagens e com suas agruras. É assim a vida!
O que se deve entender no processo do viver é que há em tudo um elemento de aprendizagem.
Ora, é algo que nos falta e que devemos suprir.
De outra vez, é algo que não percebemos e necessitamos despertar.
De outro modo, é algo que temos em abundância e precisamos dividir.
Em tudo há, portanto, algo a conhecer e a evoluir.
Neste contexto de vida, se inserem aqueles que, não dispondo ainda da devida coragem de exercer este enfrentamento, quedam-se em fugirem das responsabilidades, de repartirem as dores com outros, de não assumirem aquilo que lhes competem.
Há outra categoria de pessoas, aquela que se ampara deliberadamente em outras para sair do lugar.
O ato de ajudar, naturalmente, comporta o apoio ao outro como mecanismo de colaborar para se superar algo aparentemente intransponível. Deve ser realizado, portanto, em todas as oportunidades.
Até mesmo Jesus, o Nazareno, aceitou a ajuda, quando caído, premido pelas dores do fardo pesado que carrega. Nem Ele se negou ao apoio alheio.
Assim deve ocorrer com todo aquele que - ao carregar a sua cruz -necessite de ajuda quando considera-la excessivamente pesada.
Servir a Jesus, aprendemos, é servir ao próximo na proporção da nossa amorosidade com nós mesmos.
O que não se deve fazer, nem permitir, é que o outro, ou você mesmo, se faça ou se comporte como uma muleta.
A muleta é peça de apoio para tanta gente e que maravilhoso que ela exista, mas não pode ser transformada na relação diária como alguma coisa permanente para lhe sustentar.
Há pessoas que desejam muletas na vida, não sabem viver sem elas. E isto é profundamente prejudicial.
Se, num primeiro momento, elas poderão ser indispensáveis, depois do soerguimento do ser, elas devem imediatamente serem retiradas de circulação, sob pena de se criar profunda dependência.
Assim se comportam os preguiçosos que demandam tudo para os outros, mesmo aquilo que é de sua única responsabilidade fazer.
Desse modo procedem os que acham que sem ela poderá cair, ou seja, a muleta é uma anteparo para combater o medo – de qualquer ordem.
Há aqueles que pensam na muleta como parte integrante da sua indumentária. Acostumaram-se com elas e não as largam de jeito algum.
O ser humano não foi criado para carregar muletas pela vida toda.  Expresso-me no sentido figurado do termo.
Existe um momento que devemos, literalmente, abandoná-las.
Os desculpismos, os vitimismos, os exageros, e uma sorte de comportamentos, são obtidos pela necessidade de se manter o apoio da muleta nas suas vidas.
Acalme-se se você possui ainda algumas delas. Não se repreenda. O tempo já passou, mas cuide-se para que, de hoje em diante, perca esta dependência.
Quando se morre – interessante isto – o dependente questiona igualmente: “Onde estão as minhas muletas?”
Esta dependência é danosa porque o ser humano perde a sua autonomia, dependente que se faz de um artefato externo.
Corra das dependência! Procure seu próprio caminho.
Abandone os artifícios de linguagem que somente reforçam esta carência.
Seja você mesmo e confie na sua força interna.
Quando Jesus, por diversas vezes, exprimiu a frase “Levanta-te e anda!”, dizia isto para o espírito daquele ser humano, não apenas para soltar as muletas físicas, mas, sobretudo, as muletas que criava para seu próprio espírito andar na vida.
Erga-se logo e faça, de agora em diante, seu novo destino.
Vá à procura do seu destino grandioso.
O Pai, que a tudo observa, haverá de prover as suas necessidades de soerguimento, mas o primeiro movimento deve ser seu de se livrar das dependências que se impôs.
Assim é para toda a humanidade que Ele repete.
- “Levanta-te e anda!”
Helder Camara - Novas Utopias

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