9.5.21

Paz e Vida em Jacarezinho

Quanto custa uma vida?
Uma vida não tem preço.
Portanto, dez, vinte ou trinta vidas perdidas é uma fortuna incalculável. Não há como medir a falta que elas fazem.
Pois bem, vi acontecer no meu Rio de Janeiro uma chacina sem limites.
Alguém poderia dizer:
- Mas, Dom Hélder, eles eram criminosos.
Eu sei. Bem que eles poderiam estar no mundo do crime. Não duvido que muitos deles receberam à balas os policiais que foram lhes prender. Não duvido nada disso. O que venho alertar nestas minhas palavras primaciais é a dor de ter que combater o crime na sua última expressão e esquecer de evita-lo na sua condição inicial.
Explico melhor.
Quando o crime acontece, seja ele qual for, há ali as sementes que germinaram para a ocorrência da situação criminosa.
Vamos ver, no caso em julgamento, que há ali, naquela comunidade, como em tantas outras, a ausência completa do Estado.
Ora, quando não se tem políticas públicas sérias. Quando não há o emprego do cidadão em atividades econômicas para sua sobrevivência digna. Quando se abandona à própria sorte o cidadão, ele, por uma questão de autodefesa, vai estar aberto àquele que lhe estender a mão, mesmo que esta mão não seja digna.
A partir daí, a vida se distorce e se envereda para um caminho difícil de se tratar. O resto, vocês já sabem onde vai dar.
Eu não os responsabilizo completamente, embora cada um é que escolhe o seu caminho e deve se responsabilizar por ele. Culpo também os governos que não sabem agir proativamente e desejam acabar o mal não pela raiz, mas pelos efeitos que ele produz.
Depois do fato feito, depois da chacina que ocorreu, procurar salvos e mortos, culpados e inocentes, na periferia do problema, não o resolve efetivamente.
Portanto, remontemos as causas e cuidemos delas para que elas não se tornem um monstro a nos devorar a vida.
Há outro fator, não menos importante, e que origina tudo o mais, que é a dependência química.
As pessoas que ingerem drogas para obter a fuga das suas problemáticas existenciais é que precisam repensar o que fazem em nível de si mesmas e no que provocam com o seu consumo de entorpecentes.
Se há consumo de drogas, elas alimentam um circuito perfeito de compra e venda, que redunda na criação de um arsenal de armas pesadas que servirão para a proteção dos que fogem da lei.
Tudo, portanto, deve ser observado diante de uma visão bem mais ampla do que aquela que se manifestou num quadro deplorável de corpos jogados ao chão e de muito sangue nas residências e ruas.
Falta o Cristo nestas horas.
Porque falta a paz de espírito, o discernimento, a calma, a temperança e a justiça.
Falta o bom senso e o diálogo. Falta, enfim, amor.
E sobram balas e corpos.
Isto não pode mais continuar.
Precisamos reverter as prioridades humanas. Não apenas o capital a reinar soberano. Temos que levar em consideração cada vida humana como preciosa e indispensável.
Como estão os filhos e filhas da nossa Jacarezinho?
Como está a perspectiva de vida deles?
Que valores são passados pelos pais e cultivados pela comunidade para que todos possam agir num só discurso e ação?
Que aporte de tecnologia social e de ação efetiva de governo pode beneficiar a todos os seus moradores?
Onde estão as igrejas para cumprir o seu papel redentor?
Tudo isso junto, meus amigos e minhas amigas, haverá de fazer a diferença.
Plantando a paz, colheremos a paz.
Plantando, no entanto, a divisão e a violência, haveremos de colher a balbúrdia e o crime.
Falta Jesus no coração das criaturas. De todas as criaturas. De todos os envolvidos.
Quando vejo cenas como essas que todos presenciamos nas mídias, fico a pensar do futuro que nos espera se não dermos um corte definitivo na raiz daninha.
Se isto chegou a este ponto, nesta e nas outras comunidades cariocas, é porque faltou o Cristo, faltou a preocupação com a humanidade.
Recuperemos esta situação imediatamente.
Combatendo civilizadamente o crime, mas em teor mais forte ainda, combatendo a indiferença, o descaso, a desesperança.
Vamos dar vida às comunidades cariocas que conheço.
Vida em Cristo, vida em amor.
Hélder Câmara - Blog Novas Utopias

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