30.5.21

Acolhimento na Casa Espírita

João era um rapaz muito dedicado à causa espírita. Todos os dias ia ao Centro Espírita para desenvolver alguma atividade em especial. Era conhecido por todos pelo seu zelo e dedicação. Certa vez, João precisou ir embora, por uns tempos, da Casa Espírita. Tinha obrigações profissionais a desempenhar e aí deixou de comparecer as atividades que tanto gostava. 
Certo dia, reapareceu na Casa Espírita, feliz pelo seu retorno, mas, qual surpresa, encontrara tudo diferente. As atividades, que normalmente fazia, foram distribuídas entre várias pessoas e ele, detentor do controle de algumas delas no passado, estava literalmente sem o que fazer – do que fazia antes. Quando muito, poderia contribuir numa ou noutra tarefa. Deveria buscar fazer outras, aquelas de antigamente não mais. 
Pensou, pensou, e decidiu falar em público. Era uma atividade nobre e carecia de estudo, mas estava disposto a superar as suas limitações para atingir seu novo intento no trabalho redencionista. Em vez do trabalho árduo de ajuda ao próximo, atividade que gostava de fazer e se completava, passou agora a se dedicar à leitura dos livros básicos da Codificação Espírita e exercitar a oratória. Tudo bem, até o dia em que decidiu colocar em prática seu novo objetivo doutrinário. Qual não foi a sua decepção quando, no primeiro dia que se propôs a isso, não lhe deram atenção. Ele não servia para a oratória, servia para trabalhar braçalmente, não utilizando o verbo.  
Estava discriminado. Naquela casa só poderia contribuir se fosse unicamente ao trabalho operatório da caridade e não o da palavra. O que fazer? Não teria o espaço de antes e o novo que procurava estava sendo subtraído o seu interesse mais legítimo, pois havia se dedicado a nova missão com muito esmero. 
Pensou novamente e tomou outra decisão: iria embora daquele centro. Outro haveria de encontrar que lhe desse a oportunidade que buscava. Encontrou um bem simples, de portas singelas, de poucos trabalhadores e muito que fazer. Chegou certo dia, numa reunião pública, de poucas pessoas, e passou a observar ao seu redor. Os poucos trabalhadores que tinham a Casa estavam completamente felizes pelo trabalho executado e achou até graça no que via, porque de onde vinha todas as pessoas faziam suas tarefas como que por obrigação. Ali era diferente. Todo mundo sorria, trocava beijos e abraços. Um olhava para o outro com alegria estampada na face. Tomou a iniciativa de chegar perto dos trabalhadores e disse que gostaria de contribuir em algum trabalho, pois tinha certa experiência e achava que poderia ser útil. Qual também não foi a sua surpresa quando os trabalhadores - que mal o conhecia – o abraçaram extremamente felizes pelo fato de alguém, espontaneamente, estar se colocando à disposição para o trabalho. 
- Que bom, meu irmão, que você está por aqui. Estávamos realmente necessitando de alguém que nos desse uma mãozinha. Pedimos a Deus e eis que ele atendeu aos nossos pedidos. Chegue aqui, vamos conversar e você vai escolher conosco o que melhor lhe aprouver fazer. Que Deus te abençoe! 
O que aconteceu nesta Casa Espírita é típico da mais lídima boa vontade e despretensão que deve existir nos ambientes doutrinários. Tudo ocorre ao seu tempo na vida de todos nós. Não adianta forçar a barra. Há alguns lugares que as pessoas estão preocupadas tão-somente em dar a sua cota de caridade. De se sentirem aliviadas por terem ajudado no que estava ao seu alcance. João chegou na “velha casa” e foi surpreendido com a distribuição equitativa das tarefas e ele não mais cabia naquele espaço. Sentiu-se solto, sem apoio, como se um estranho fosse.  
Não é assim que muitas vezes nos sentimos numa Casa Espírita? Chegamos e ninguém nos nota a presença. Parece que somos invisíveis, espíritos desencarnados. É preciso entender que lidamos com pessoas e que somos também pessoas, que precisam de carinho, atenção, afeto. Somos pessoas únicas e temos possibilidades de contribuir incessantemente no trabalho do Pai. Mas carecemos, sobretudo, quando chegamos num ambiente novo, que alguém olhe para a gente, que reconheça que estamos chegando pela primeira vez e que desejamos algo. Somente a conversa sincera e amiga pode fazer frente a esta lacuna do coração que pede para ser ouvido. 
Ao estar num ambiente espírita, deixe pra lá qualquer atividade que não seja aquela de ouvir o próximo e, de preferência, com o coração. Escute suas ansiedades, seus desejos, suas indagações, ele, enfim. Seja paciente, caridoso, carinhoso, um irmão. É este o comportamento que todos esperamos quando chegamos a algum lugar e assim deve ser também num ambiente espírita, em especial. 
Caridade com os olhos, caridade com o coração, caridade no afeto contínuo que devemos desejar e exprimir a todos que se aproximem de nós em qualquer lugar que estejamos. 
Confie nas palavras do Mestre Jesus de que não lhe faltará a boa palavra a quem te procurar. Ele mesmo, em todas as ocasiões, sempre esteve à disposição de todos, para esclarecer dúvidas, dar uma palavra de consolo ou mesmo para afagar os cabelos de alguém em profundo sofrimento da alma. 
Seja você, semelhantemente ao Cristo Jesus, na seara espírita, o recepcionista do irmão que almeja algo para sua alma. Dê a ele o passaporte do afeto sincero e verá, não somente para ti, mas para toda a Casa, um resplandecer de esperanças no novo trabalhador que afincadamente se dedicará para fazer valer a confiança a ele depositada. Confie em Jesus em todas as ocasiões, mesmo que seja você o rejeitado, ele te dará guarida no melhor lugar que te ofereça plenas condições no trabalho de servir ao próximo.  
Maria Dolores - Blog de Carlos Pereira
Texto recebido por Carlos Pereira, em 25 de janeiro de 2005.

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