Parece que foi ontem que me
vi a passear pelas ruas da cidade do Recife. Caminhava sem direção, apenas
apreciando a paisagem e vi um menino pedindo esmolas. Isto me feriu bastante.
Logo uma crança a pedir pelas ruas. Uma pobre criança. Será que nem lar possui,
onde estará a sua mãe? Perguntas e mais perguntas assolavam a minha
mente.
Fui ao seu encontro e
perguntei:
- Meu filho, cadê a sua mãe
que não vê isso? Como ela pode deixar que você esteja a pedir esmolas nas
ruas?
- Tenho mãe não, seu padre,
por isso estou aqui.
- E seu pai, onde está seu
pai, menino?
- Onde, eu não sei. Ele
saiu para a vida e me deixou só com a minha mãe, nunca mais eu o
vi.
- Então, você é só no
mundo? Onde está o resto da sua família?
- Por aí, seu padre. Sei
dela não. Depois que minha mãe morreu, me levaram para um orfanato. Eu não
gostei de lá e fugi. O senhor não vai me mandar de volta, não
é?
- Não, isso não. Sei seu
consentimento, você não vai para lugar algum, mas ficar no meio da rua, desse
jeito, isto não pode.
- Então, o que o senhor vai
fazer por mim?
- Diga-me uma coisa: se eu
arranjar uma boa família para você morar, você topa ir
comigo?
- Topo. Se eles forem do
bem, se eles gostarem de mim e eu deles, eu só tenho a
ganhar.
- Então, venha comigo. Tive
uma idéia, se der certo... É um amigo meu que estava pedindo para ter um filho,
pois sua esposa não conseguia engravidar. Quem sabe ele se “engraçe” de você e
lhe adote como filho.
Peguei na mão dele e saímos
a caminhar para a direção do posto de gasolina. Ele era proprietário de um posto
de gasolina. Pegamos um ônibus e fomos até lá.
- João, tudo
bem?
- Dom Hélder, que prazer
ter o senhor por aqui.
- Eu também estou surpreso
de vir parar no seu estabelecimento comercial, mas me deu uma vontade de vir
aqui.
- O que foi que se sucedeu
para o senhor bater pernas lá das Fronteiras até o meu humilde
estabelecimento?
- Tive uma idéia, João. Não
sei se você vai gostar, mas é apenas uma idéia.
- Pode falar, Dom. Vindo do
senhor sempre é algo interessante.
- Pois bem, João, veja só.
Eu saí para passear um pouco, esticar as pernas e levar um pouco de sol e me
deparo com uma cena triste.
- O que foi, Dom, fale
logo, posso fazer alguma coisa?
- Pode. É aí que você
entra.
- Pode falar, o que estiver
ao meu alcance, eu faço.
- Faz mesmo,
João?
- Faço, pelo senhor eu faço
tudo.
- Não precisa tanto, meu
amigo, e nem é realmente para mim. É para um menino que vi pelas
ruas.
- O que é que ele
tem?
- Exatamente isto, João,
ele não tem. Não tem pai nem mãe. E eu pensei, lembrando daquela conversa que
tivemos: Por que não levar esse garoto até João? De repente, ele gosta do menino
e o menino gosta dele, aí...
Não deu outra. Mandei
chamar o “branquelo”. Quando ele olhou para João e João olhou para ele,
imediatamente começaram a sorrir um para o outro. Parecia até que já se
conheciam. O menino quase chorou de emoção. O João ficou meio tímido diante da
situação, mas era igualmente visível a sua emoção.
- E aí, vocês não vão falar
nada um para o outro?
- Dom, eu não sei o que
está me dando, mas parece que eu conheço este moleque há muito tempo. Vem cá,
qual é o seu nome?
Deixei os dois conversando
para ver se eles se entendiam. O “namoro” era com os dois e depois com a esposa
de João. Daqui a pouco, João chegou para mim e
disse:
- Dom Hélder, parece que o
senhor me trouxe um presente e dos grandes. Como me identifiquei rapidamente com
este menino, parece que somos amigos de um longo tempo. Vou levar para casa e
ver se Nice se “engraça” com ele também.
- Leve e depois me diga
alguma coisa. Se não for ficar com o menino, pode deixar, eu levo ele de
volta.
Dias depois, chegaram os
três lá na Igreja.
- Dom Hélder, viemos lhe
fazer uma revelação. Dizia João para mim, sorridente, feliz da
vida.
- Diga, meu filho, temos
novidades?
- Temos sim e das boas. Eu
e Nice resolvemos adotar o garoto e ele parece que está gostando da idéia. É
como se ele fosse o nosso filho de verdade e havíamos perdido ele por
aí.
- Que bom que você pensa
assim, meu filho. E você, garoto, quer ficar com
eles?
- Quero, seu padre. Nestes
dias que fiquei com eles fui muito bem tratado. Parece que eu era de casa. Vamos
ficar juntos, sim.
Despediram-se e foram
embora. O que ficar desta história que contei? Muito, muito a se aprender, mas,
sobretudo, é uma narrativa que traz no seu bojo o fio da
esperança.
Quando me vi com a idéia de
levar o menino para João tive a esperança que eles ficassem juntos. Quando eles
disseram que ficariam com o menino, estavam também respondendo com a esperança.
A esperança é acreditar que amanhã tudo pode mudar. Não como um passe de mágica,
mas como se tudo estivesse planejado e precisaríamos apenas dar um empurrãozinho
na sorte, porque ela, mais cedo ou mais tarde, haveria de chegar, era somente
ter um pouco de paciência.
A esperança, minha gente,
tem que ser o combustível dos nossos dias na Terra, pois se pensarmos que tudo
está definido, sem solução, não teremos sequer razões para viver. Porque temos
esperança a vida vale mais a pena de ser vivida. Porque temos esperança nossa
vontade de viver e prosseguir vai adiante. Poderia dizer, sem medo algum de
errar, que a esperança é o motor da vida.
Por mais que tudo esteja
caindo sobre os nossos pés. Por mais que não haja nada mais a ser feito. Por
mais que as soluções se escasseem, temos que ter
esperança.
“A esperança não é a última
que morre, mas é a primeira a renascer”, aprendi com certo amigo aqui no mundo
espiritual – e como ele está certo.
Se não fosse pela
esperança, Jesus, nosso irmão maior, já teria abandonado de vez toda a
humanidade, mas Ele nos dá cotidianamente lições de esperança. E será pela
esperança divina que haveremos de ter outro planeta num tempo breve, pois os
homens se renovarão. Haveremos de criar outra realidade, bem diferente desta que
aí está.
Nós seremos
felizes.
Nós modificaremos o
mundo.
Nós seremos ricos em
prosperidade.
Nós viveremos na justiça
total.
Nós construiremos um mundo
cheio de amor.
Esta minha esperança
imorredoura, meus amigos, me anima a alma todos os dias, é o meu alimento
primacial. Por muito ter esperança na humanidade é que estou aqui, mesmo depois
de “morto”a escrever continuamente estas linhas, na esperança de ser
considerado, levado em conta nos meus raciocínios e
reflexões.
O mundo vai mudar e com ele
teremos fartura, bem-aventurança, nova realidade, o próprio reino de Deus sobre
a Terra, conforme nos assegurou o Nosso Senhor Jesus
Cristo.
Um abraço a
todos,
Helder
Camara
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