9.2.21

Nossa Caminhada

Brincar com a morte. Será que podemos? 
Driblar o inadmissível momento do desenlace carnal. É justo? 
Pois bem, em vida física, fui muito temente a morte. Não como algo fatal e inexoravelmente apavorante, destruidor de almas. Meu receio era não ter dado conta em vida do que o Pai Amantíssimo me confiara. 
Creio que todos nós, quando envolvidos no escafandro físico, temos uma missão a cumprir, caso contrário, não precisaríamos estar aqui. 
Minha aventura na terra, portanto, haveria de ter um propósito e eu tinha que conquistá-lo antes da volta inevitável. Este era o meu temor. 
Quando morri e me reencontrei nos braços da eternidade de Deus, vi-me só. Não sem companhias, porque muitos vieram ver-me, mas falo da solitude dos pensamentos mais íntimos, aqueles que ninguém jamais chega. 
- Estou vivo! Estou vivo! Dizia repetidamente a mim mesmo. Tudo continua. Tudo é maravilhosamente belo e fascinante. Nova vida pela frente. Que belo é o rosto do Senhor. 
Esta minha constatação encheu-me de dúvidas e desafios. 
Ora, se estava vivo deveria me lembrar ou saber sobre como todo este mundo estonteante funciona. Qual seria o meu papel aqui e agora? 
As perguntas pululavam na minha mente, sedento de respostas. 
Se, afinal, a vida persiste, o que será de mim agora? 
Pouco a pouco, percebi que tudo era igual ao que era antes. Os mesmos amigos e outros mais que fazíamos ao longo da jornada. Desafios a enfrentar em diversos matizes da experiência humana. Muito por fazer. 
Aí, então, descobri a mediunidade. 
Que fascinante, pensei mais uma vez, posso me comunicar com o mundo de lá. Como fazer tudo isso acontecer? Com quem me apegar? Como produzir textos e poder falar? 
Foi-me indicado alguns médiuns. Muitos amigos caros e próximos no pensamento. Outros nem tanto assim, mas pouco afeto a servir de intérprete de um velho padre. 
Então, me surgiu Carlos e eis-me aqui com ele. 
Não foi rápido este encontro. Tive que perlustrar com muitos outros antes de chegar a ele. Um e outro, que me identificaram, rejeitaram a parceria. Tinham mais condições psíquicas que ele, mas não davam fé nesta caminhada conjunta.
Certo dia, ao me encontrar num salão em oração, do lado de cá da vida, eis que me chega um recado de seu protetor espiritual que havia conversado com seu protegido e ele aceitou conversar comigo. 
Foi uma conversa amistosa e cordial. 
Tivemos muita surpresa, de parte a parte, com alguns fatos recentes e passados que havíamos cruzados, sem que tivéssemos a oportunidade de nos fixarmos um ao outro. O fato de ser espírita para mim não era problema, eu queria um escritor de meus pensamentos, não me importaria a fé que professava.  Ele aceitou e fomos em frente. 
Hoje, alguns anos depois, a caminhada continua e sou muito grato a ele. Não tenho que desculpá-lo em nada por uma falta ou outra, afinal, ele está no mundo dos vivos na carne e tem que enfrentar determinados problemas que não enfrentamos mais quando estamos apenas na pele espiritual. 
Tempo decorrido, tive a necessidade de encontrar outros pares e assim o fiz. A nossa querida Antonieta foi-me, igualmente, uma grata revelação. Sua docilidade e compromisso com a obra do Cristo é espantosa, chego a me emocionar ao seu lado. Mais leve e graciosa, tocamos os textos de outra forma, de acordo com suas tendências e nos completamos. 
Há outros a quem me dirijo e produzo trabalhos. A fé espírita possui muitos trabalhadores aptos e cônscios de suas responsabilidades e quando encontro ressonância intelectual e moral, não me demoro em buscar uma parceria psíquica. 
Tudo isso demonstra o meu prazer em produzir, cada vez mais, nos umbrais da vida. 
Sou inquieto por natureza e, neste ponto, compactuo com Carlos no sentido de que a produção, em Cristo, jamais pode parar. 
Nossa luta, nosso trabalho árduo e edificante, tem o propósito de servir a Jesus e a sua causa, do qual somos meros intérpretes da sua vontade. 
Assim sendo, despeço-me neste dia em que simbolicamente se comemora o meu aniversário quando estava entre vocês. 
Quanto tempo faz... 
Sou grato a todos e a tudo que me fez chegar até aqui. 
Somos parte da mesma família porque viemos de um mesmo Pai, então, somos, de fato, todos nós irmãos. Cuidemos de nos comportar dessa maneira. 
O Cristo que tudo nos vê e guia, sabe do meu esforço, ainda pequeníssimo, de ser alguém efetivamente melhor e justo. 
A todos que relembram esta data no dia de hoje, minha gratidão e apreço, e um abraço caloroso do irmão de sempre. 
Helder Camara - Blog Novas Utopias

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