17.12.24

AO TOQUE DO AMOR

PEDRO de Castro VELHO *

Rompendo a bruma, em louca arremetida, avança
No incrível desvario em que se deblatera,
Onde a sombra abismal domina, esfera a esfera.
O triste obsessor, faminto de esperança.
 
Preso ao mal que atormenta e à dor que não descansa,
O que mais o acabrunha e o que mais o exaspera
É sua estranha volta aos instintos da fera,
Na loucura feroz que o propele à vingança.
 
Espírito infeliz, padece no braseiro
De flagelo mental, gargalhantes e escarninho, -
Mil remorsos bramindo em torvo cativeiro...

Mas ao toque do amor, sem que a treva o degrade,
Arrepende-se e clama, ante o novo caminho,
14. Para nova missão na glória da humildade.

(*) Patrono, na Academia Sul-Riograndense de Letras, da cadeira nº 32, e colaborador de diversos jornais e periódicos de sua terra natal, dentre outros, O Diário, O Pampa, A Revista do Sul. A princípio, foi Pedro Velho grande poeta romântico, “intérprete espontâneo da desesperança e da piedade”, segundo a expressão de João Pinto da Silva (Hist. Lit. R.G.S., págs. 120 e 124): depois, transformou-se “num profissional do humorismo, muito embora continuasse, no íntimo, a alimentar-se do mesmo pessimismo e da mesma angústia (idem, pág. 126). (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 29 de junho de 1882 – Porto Alegre, 7 de setembro de 1919).
BIBLIOGRAFIA: Ocasos.
Sobre o esquema rimático dos tercetos, cf. o soneto “Primavera! (apud Col. Poetas Sul-Riogr., pág. 196), uma de suas produções isentas de imagens negativas.
Livro: Antologia dos Imortais - Francisco C. Xavier e Waldo Vieira

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