14.5.23

Dignidade

No dia 13 de maio de 1888, assinou-se aquilo que costumeiramente ficou conhecida como a Lei Áurea - a lei de ouro da liberdade para os escravos negros brasileiros.
Mais de um século depois, ao recordar esta lei bendita e santa, percebemos claramente que, apesar de grandiosa, foi absolutamente incompleta.
Liberdade se dá à medida que aquele que a possui tem plenas condições de escolha, sem isso é apenas um simulacro de liberdade.
No mundo capitalista que vivemos, aprendemos que o dinheiro é tudo. Esta falácia corre solta para aqueles que veneram o deus-dinheiro.
Mas são as leis. São as regras do jogo do capital quem impõem aquilo que deve e o que não deve ser feito. Aquilo que é condizente com os interesses dele e o que é contra o seu crescimento.
O deus-capital se impõe até hoje a humanidade e está cada vez mais sofisticado.
Agora, pelas mãos da tecnologia, impõe, ainda mais, a exclusão de milhões, bilhões, de seres humanos mundo afora.
Os relegados de ontem, pretos e pobres, se juntam aos brancos e afastados da ordem do capital.
Em outras palavras, à escravidão disfarçada do passado assomou-se ao sistema absurdo de exclusão de gente para a veneração do deus- dinheiro.
Os negros brasileiros, apartados do bolo da distribuição da riqueza na sua época, ficaram cada vez mais injustiçados e marginalizados.
Ganharam as periferias, viveram abjetamente, e o pior de tudo, foram cravejados como párias e bandidos.
Engraçado com a elite branca dominante manipula interesses e opiniões para a manutenção de um quadro absolutamente anticristão.
E hoje, o que temos a comemorar?
Perdoem-me dizer: nada - absolutamente nada.
O mundo cresceu, porém, não conseguiu desenvolver-se, porque entendo como desenvolvimento a inclusão de gente no bolo da produtividade e da felicidade. E boa parte de nossa gente não sabe por que nasceu, para que nasceu e para onde vai a sua vida.
São subtraídos dessa nossa a gente não apenas a liberdade, mas aquilo que intrinsecamente ela traz como bem inafiançável: a dignidade.
Quando, a minha gente, a dignidade será a marca de todo o povo brasileiro?
Quando, minha gente, não encontraremos mais pobres e miseráveis a mendigarem e a dormirem nas ruas?
Quando, minha gente, não teremos esta divisão criminosa da renda no Brasil?
Quando, minha gente, finalmente, seremos justos - e consequentemente - poderemos nos afirmar seguidores do Cristo?
Neste 13 de maio, minhas honrarias a Zumbi dos Palmares, aos esquecidos das favelas e mocambos, aos deserdados de toda sorte, aos esfomeados, aos tratados injustamente.
Clamo pelos negros injustiçados!
Oro pelas almas atormentadas, vítimas da miséria e do preconceito cruel.
Aos que tenham olhos para ver e ouvidos para ouvir, lembro das palavras santas de nosso senhor Jesus Cristo:
- Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça porque é deles o Reino dos céus.
Não um céu futuro e incerto.
Não céu de estrelas romanceadas e paradisíacas.
Não o céu inconsequente.
Mas, um céu aqui e agora.
Um céu de paz interior.
Um céu de justiça e de amor.
Helder Câmara - blog Novas Utopias

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