16.5.23

A Brevidade da Vida

Lúcio Aneu Sêneca foi um filósofo romano que viveu na época de Jesus. Representante da escola estoica, um de seus livros referia-se ao título deste artigo. Dele, destaco um trecho para ilustrar o que quero defender:
O tempo presente é brevíssimo, tanto que a alguns parece não existir, pois está sempre em movimento; flui e precipita-se; deixa de ser antes de vir a ser; é tão incapaz de deter-se, quanto o mundo ou as estrelas, cujo infatigável movimento não lhes permite permanecer no mesmo lugar. Pertence, pois, aos ocupados, apenas o tempo presente, que é tão breve que não pode ser abarcado; e este mesmo escapa-lhes, ocupados que estão em muitas coisas. 
O tempo é efetivamente brevíssimo. Escorrega das nossas mãos. Quando vemos ele já passou numa velocidade estonteante. Vai-se embora precipitadamente que nem percebemos a velocidade como chegou e se foi. E parece que nos tempos presentes isto ocorre mais aceleradamente que antes.
Há pouco tempo tinha treze anos e curtia “Os Embalos de Sábado à Noite” e, embora não conseguisse dançar como John Travolta, ao menos aquela roupa que ele dançava no filme eu tinha e ouvia os Bee Gees repetidamente sem me cansar. Quando abri os olhos já era pai e o trabalho para ganhar a vida ocupava praticamente todos os meus dias - até o fim de semana. Novamente quando abri os olhos, já beiro uma aposentadoria apesar de me achar tão disposto quanto aos vinte e cinco anos, acrescido de uma experiência inevitável.
Nesse deja vu, passo a me lembrar de muitos momentos marcantes da minha infância e da minha juventude e em vários deles havia uma figura presente, um tio-irmão que me apoiou em várias iniciativas daquele principiante nesta vida: Edvaldo Freitas Lins, carinhosamente chamado por todos por Valdinho.
Apesar de ter 68 anos, acreditava que o veria ainda por mais tempo entre nós, mas eis que inesperadamente recebo a notícia no começo da manhã de 11 de maio que ele inventou de retornar “mais cedo” ao mundo dos espíritos.
Ultimamente, estava doente, mas pensávamos todos nós da família que seria coisa passageira, afinal, sempre teve uma saúde de ferro. Não era. Ele realmente teve que partir antes do que esperávamos.
Pego de surpresa, não me acostumei com a ideia de que não vou mais vê-lo. Está tudo tão recente. Ainda o espero chegar de repente, como sempre fazia, para nos visitar. Era um tio andarilho. Todos os sobrinhos tiveram certamente experiências inesquecíveis com ele. Não importa. Ele era querido pelas suas qualidades e equívocos. As alegrias que ele nos presenteava com seu jeito de menino brincalhão era o que o distinguia. E sua solidariedade. Estava sempre conosco quando precisávamos. Aparecia para nos dizer, do seu jeito, “estou aqui”.
Alguém me disse, no sepultamento do seu corpo físico, que ele era bom, mas era ruim para ele mesmo. Possivelmente. Em muitos momentos parece que não desejava crescer. Bem, será ele – como todos nós - que responderá pela sua consciência.
Sentiremos sua falta!
Não posso ver a sua foto que as lágrimas chegam aos borbotões. Isso chama-se luto. A dor da ausência a quem amamos. É uma emoção que devemos deixar chegar e invadir até um dia ela ganhar seu lugar e se acomodar. Mas jamais esquecer.
Estes tempos corridos que nos ocupa até os sonhos faz-nos escapar, qual Sêneca nos lembra, de muitas coisas.
Lembrar que precisamos dar importância relativa às coisas da matéria, pois ela verdadeiramente é uma ilusão.
Lembrar que precisamos dizer as pessoas que amamos o quanto elas são importantes para nós porque amanhã...
Lembrar que precisamos aproveitar cada momento como se fosse o último, carpe diem, para darmos o nosso melhor e deixar de lado as futilidades que o ego insiste em reclamar.
Espero, Valdinho, que seu despertar no mundo dos imortais seja tranquilo e sua adaptação seja rápida. Minha avó Amara estava tão preocupada com toda este contexto e, certamente, vai te acolher como toda mãe faz com o filho quando passa por uma situação de adversidade.
Daqui a pouco, você vem dar notícias. Estarei por aqui para completar a ligação.
Obrigado por tudo, irmão, que você fez por mim!
“Qualquer dia a gente vai se encontrar.”
Apesar de saber nas entranhas sobre a continuidade da vida, não aprendi dizer adeus – e creio que vou demorar.
Vê se faz alguma coisa para nosso Santinha voltar logo, no mínimo, para a série B.
Parece que agora, finalmente, irei conhecer Beatriz. Essa você ficou me devendo.
Um beijo de muita saudade!
Carlos Pereira - Blog de Carlos Pereira

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