30.4.23

As Armas da Paz

Toda guerra é uma declaração humana da sua incompetência de dirimir conflitos pelo mecanismo do diálogo e da paz.
Toda guerra gera frutos indesejáveis.
São mortes.
São arbitrariedades.
São violências inapeláveis.
Não há explicação racional para a guerra. Tenta-se sempre encontrar uma, mas, no fundo, ela é vazia.
O que esperamos é que toda guerra passe, que se acabe logo com todo o terror que ela traz, mas é preciso aproveitar este momento terrível para que esta guerra não se repita mais.
Eu não sei, sinceramente não sei, se os homens têm aprendido sobre o terror da guerra.
Sinceramente, creio que não! Porque se houvesse apreendido, não a faria mais.
O homem, porém, ainda é bastante imperfeito e aceita justificativas injustificadas para promover a guerra.
Vejamos a última de plantão.
A Rússia invadiu a Ucrânia. Estes são os fatos.
Não houve, por parte da Ucrânia, um ataque objetivo.
Não houve por parte da Rússia uma tentativa clara de negociação antes de atacar. E mesmo depois, não se sentou para conversar.
As vidas parece que não valem absolutamente nada.
A destruição de prédios e cidades são ignoradas.
As injustiças campeiam em nome de uma verdade fictícia.
As nações se reorganizam para tentar cessar a guerra. E como fazem isso? Fazendo mais guerra.
Há sempre injustiças na guerra. A única guerra justa é pela paz e a paz não se faz mediante guerra.
A guerra é uma imposição violenta da vontade alheia.
- Mas dom Hélder, não há guerras por motivos justos? Não há guerras contra opressores? Não há guerra contra ditadores?
Sim, claro que há! Mas foram pensadas e debatidas as raízes profundas da guerra?
O fato é que os homens, de maneira geral, ainda querem viver para dominar outros homens.
O poder acima de tudo.
A vontade de uns acima das outras.
Enquanto assim pensarmos e agirmos, não haverá paz.
A paz é a arte do diálogo.
A paz é a ciência do entendimento mútuo.
A paz é a aplicação, na sua mais absoluta concepção, do exercício da fraternidade e do amor.
Portanto, quando existe guerra, de algum modo é uma declaração viva de que não existem diálogo, entendimento mútuo, fraternidade e tampouco amor.
A guerra entre a Rússia e a Ucrânia não levará a lugar algum a não ser a morte de civis.
Baixar a bola!
Sentar-se à mesa!
Despir-se de subterfúgios!
E, sobretudo, querer de verdade a paz, são elementos fundamentais para apaziguar ânimos e calar as armas.
Enquanto, porém, a força do domínio de pessoas contra pessoas predominar na relação terrena, haverá conflito e, por conseguinte, guerra - o seu estágio mais crítico.
Jesus foi um pacificador por excelência.
Lógico, que não ficava de braços cruzados, nem de boca fechada diante das injustiças da sua época. Sua tática, no entanto, era a de demonstrar a incoerência dos dominadores e justificar a sua ação pacificadora na elucidação da verdade, deixando os dominadores sem argumentos, mas nunca empunhando armas.
Lembro-me bem quando se imaginava prender a Jesus e Pedro ensaiou a defesa com armas, o Mestre da paz foi enfático em não revidar da mesma maneira as injustiças e agressividades que a ele eram dirigidas.
Preferiu sofrer a fazer alguém sofrer.
Preferiu morrer a deixar que alguém morresse.
Preferiu deixar a mensagem da paz no seu testemunho de vida a ser conhecido como um incoerente.
Martin Luther King, no meu tempo.
Um pouco mais atrás, Gandhi.
E tantos outros heróis anônimos defenderam suas propostas e propósitos através da palavra forte e segura, mas jamais com armas.
A arma do pacificador é a não violência e o confronto com a verdade. Porque acreditam, firmemente, que somente a verdade pode aplacar as guerras.
Um pacificador jamais é um sujeito passivo.
Um pacificador luta com a verdade.
Um pacificador usa a violência dos pacíficos.
Conhecer a verdade.
Mostrar a verdade.
Denunciar na verdade.
Eis o caminho da justiça e da paz, porque contra a verdade somente um gesto de violência e agressividade.
Bem-aventurados os pacificadores!
Os mansos que herdarão a Terra.
Façamos da verdade o nosso escudo maior contra qualquer tipo de violência.
Façamos da nossa coragem o gesto mais eloquente contra qualquer manifestação de agressividade.
Sejamos soldados da paz!
Tenhamos a fé e a coragem dos que acreditam na promessa santa de Jesus e façamos, no que couber, a nossa parte.
Jesus em nossas vidas!

Helder Camara - Blog Novas Utpoias 

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