17.1.23

Papa Bento XVI

Um dia - e não tão distante assim - fui a Roma para tomar algumas providências sobre um evento que organizaria no Brasil na nossa querida conferência nacional dos bispos do Brasil.
Ao chegar no Vaticano para as providências devidas fui atendido por um senhor muito atencioso que me questionou uma série de motivos sobre a nossa reivindicação que eu trazia em mãos.
Via ali alguém muito interessado em compreender a razão de ser das coisas. Não criticava, mas questionava para entender muito bem o que se passava e o teor real da nossa reivindicação.
Era um porta-voz, tão somente, naquela ocasião, da nossa reivindicação para quem efetivamente tomaria a grande decisão.
Impressionou-me o seu jeito interessado e profundo de conhecer a verdade dos fatos. Não se convencia facilmente se não houvesse argumentos sólidos para os fatos apresentados.
Esta figura era o Cardeal Ratzinger.
Não era imprudente. Não era arrogante. Era firme nas suas convicções.
Mais tarde, soube do seu interesse em estudar melhor sobre a Teologia da Libertação.
Já em outra condição mais avançada no Vaticano, o Cardeal Ratzinger condenou, peremptoriamente, o documento que assinávamos em torno de uma nova Igreja, sobretudo baseada nos mais simples e nos mais fracos.
Ele dizia, na ocasião, que todos nós, de alguma maneira, éramos fracos em determinadas circunstâncias e situações e que, portanto, não caberia um olhar enviesado sobre aquilo que perigava ser uma possível visão marxista da situação.
Claro que discordamos dessa maneira de pensar, mas entendi ali certo zelo daquele senhor. Ele estudava os pormenores. Ele tinha um raciocínio diferente do nosso, mas não era desleal. Era verdadeiro nas suas convicções e as defendia com rigidez.
Posteriormente, se tornou uma figura proeminente junto ao nosso querido papa João Paulo II que sempre o escutava com muito carinho, com muita atenção e com ele dividia as suas preocupações em torno de uma Igreja renovada, é verdade, mas que não tangenciasse para um perigo comunista. Absolutamente compreensível!
Ocorre, quis o destino, que ele viesse a suceder o nosso João de Deus quando do seu retorno para a pátria do espírito.
Ora, aquele homem não se preparou, na prática, para o papado, embora tivesse a compreensão exata do papel da Igreja nos moldes que acreditava.
Foi leal o tempo todo à Igreja que abraçou.
Foi um padre disciplinado para a causa do Cristo.
Foi um homem de bem, em última palavra.
Num momento difícil da Igreja Católica, o papa Ratzinger fez um movimento de profundo desapego e amor à Igreja: renunciou ao seu mandato papal.
Ora, meus irmãos, esta atitude é reservada apenas para as grandes almas.
E ele demonstrou ser uma delas.
Pois bem, hoje ele se encontra em recuperação num dos prédios aqui localizados na nossa cidade de moradia de predominância eminentemente de católicos. Somente dorme. Descansa! Está em paz. 
Quando acordar do seu sono imortal quem sabe haveremos de conversar novamente, e com o espírito cristão de sempre, dividirmos os nossos pensamentos, os nossos jeitos particulares de ver a vida e a Igreja, mas, certamente, indo ao encontro do Evangelho de nosso senhor Jesus Cristo, ao qual zelou e tentou cumpri-lo à medida das suas possibilidades.
Bem-vindo, Papa Bento, seja feliz na sua nova morada!
Helder Camara  - Blog Novas Utopias - médium Carlos Pereira

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