15.9.22

ARGUMENTANDO SOBRE A REENCARNAÇÃO

    I. ARGUMENTOS FILOSÓFICOS
    Sem a reencarnação, cada pessoa que nasce seria um espírito novo, criado por Deus para, numa única existência terrena, alcançar a perfeição e a felicidade espiritual, indo gozar para sempre o céu, ou, em caso contrário penar eternamente no inferno. Nesse caso:
    - por que não somos hoje como os homens das cavernas? Nosso progresso significaria que, ao longo dos séculos, Deus se aperfeiçoou na arte de criar? E seria justo os criados por último estarem gozando de melhores condições de corpo e de meio ambiente que os primitivos?;
    - por que uns nascem saudáveis e outros enfermos? Uns inteligentes e outros débeis mentais? Uns ricos e outros miseráveis? Não sendo iguais as situações de vida, como exigir que todos alcancem os mesmos resultados?;
    - quem mesmo se aplicando muito, consegue numa só vida a perfeição (o desenvolvimento de todas as suas potencialidades e o pleno conhecimento do mundo material e espiritual) e a felicidade (por saber usar de tudo com acerto e equilíbrio, retirando os melhores efeitos)? A obra de Deus ficaria incompleta ou condenada para sempre? Não tem Ele poder para completá-la ou dirigi-la? Ou já nos criou sabendo disso, que não conseguiríamos a perfeição nessa vida única?
    Então, não seria bondoso.
    Com a reencarnação que se conjuga à idéia de evolução, temos conclusões inteiramente outras:
    1) Deus é justo. Cria todos os seres iguais e a todos dá as mesmas oportunidades.
    As diferenças entre os indivíduos explicam-se pelo grau de evolução em que cada ser se encontra. Uns viveram mais e por isso ostentam maior desenvolvimento intelectual e moral. Outros ou não aproveitaram bem as oportunidades de progresso ou ainda não tiveram muitas existências, por isso se apresentam em menor evolução. Diferentes são as dificuldades e problemas enfrentados pelas pessoas, porque cada qual tem uma necessidade diferente de experiências para o seu progresso atual. Mas não há acaso ou injustiça divina, nem mesmo nas diferenças devidas à:
    a) Hereditariedade: dependem da ligação que o espírito tenha com a família em que renasce e das condições que tenha em seu perispírito para aproveitar, sofrer ou superar os fatores hereditários.
    b) Meio ambiente: se o espírito renasce nesse meio é porque tem ligações com ele ou precisa das experiências que ele enseja, para valer-se das boas influências e superar as más.
    2) Deus é bondoso. Nunca nos condena e, embora cada um receba segundo suas obras, todos terão tantas oportunidades quantas necessárias para resgatarem seus erros e evoluírem.
    3) Deus é poderoso. Criou-nos para a perfeição e a felicidade e seu desígnio se cumprirá, pois todos nós as alcançaremos, através das vidas sucessivas.
    II. ARGUMENTOS CIENTÍFICOS
    Conquanto em todos os lugares e povos, e em todos os tempos, haja evidências sobre a reencarnação, ainda não podemos dizer que ela esteja comprovada, segundo os atuais cânones da Ciência, que tudo reporta ao plano da matéria e precisa que os fenômenos se repitam de urna forma que possa provocar e controlar para então observá-­los, entendê-los e explicá-los.
    A reencarnação, porém, é um processo que transcende a vida física (embora parte dela se dê no mundo material). E é, também, um processo de vida que não está nas mãos do homem fazer parar ou repetir, para observá-lo.
    Porém pesquisas modernas vêm dando uma abertura neste campo e já se tem conseguido dados significativos a respeito, através de:
    a) Lembranças espontâneas.
    Há pessoas que, conscientemente ou em sonhos, se lembram de algumas de suas existências passadas.
    O Dr. Banerjee, da índia, e o Dr. Yan Stevenson dos EUA, pesquisaram a respeito; o Dr. Yan Stevenson escreveu "20 Casos que Sugerem Reencarnação".
    b) Regressão da memória pela hipnose.
    Hipnotizada, a pessoa passa a lembrar e relatar seu passado nesta encarnação e, em certos casos, chega a recordar uma ou mais existências anteriores, descrevendo fatos, acontecimentos dessas encarnações passadas.
 Livros têm sido escritos a respeito dessas pesquisas, como o da psicóloga americana Helen Wanbach, intitulado "Life Before Life".
    Mais recentemente, surgiu nos EUA, uma técnica psicológica, lançada pelo Dr. Morris Netherton, para a regressão da memória a vivências passadas (desta ou de outras encarnações) feita em estado de lucidez (não é por hipnose) e com finalidade terapêutica. É a Terapia de Vidas Passadas (TVP), que está sendo chamada de Terapia Regressiva a Vivências Passadas (TRVP), porque nem sempre o que se detecta no paciente é da vida passada, mas desta existência.
    c) Anúncios de Reencarnação futura.
    Por revelações mediúnicas ou por via anímica (percepção do próprio encarnado), às vezes são feitos anúncios de que um determinado espírito vai reencarnar e são dados sinais precisos para a sua identificação, quando do nascimento, o que se cumpre depois, conforme fora anunciado.
    III. ARGUMENTOS RELIGIOSOS
    Nas tradições e na literatura religiosa de muitos povos e épocas, encontraremos o registro da idéia da reencarnação e ensinos a respeito. Mas como, aqui no Brasil, nosso povo está mais ligado as idéias religiosas da
 Bíblia, a ela recorreremos.
    No Velho como no Novo Testamento, há passagens sobre reencarnação.
    Citaremos, do Novo Testamento, uma passagem em que Jesus a ensina teoricamente, outra em que indica estar reencarnado entre eles naquela época, alguém que no passado fora muito conhecido e respeitado, e uma
 terceira em que reafirma essa reencarnação.
    1. O diálogo de Jesus com Nicodemos   "Ora, entre os fariseus, havia um homem chamado Nicodemos, principal dos Judeus, que veio à noite ter com Jesus e lhe disse:
    "- Mestre, sabemos que vieste da parte de Deus, porque ninguém poderia fizer os sinais que tu fazes, se Deus não estivesse com ele.
    "- Em verdade, em verdade te digo: Ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo.
    "- Como pode nascer um homem já velho? Pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, para nascer pela segunda vez?
    "- Em verdade, em verdade te digo: Se um homem não nasce da água e do espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito.
    "Não te admires de que eu te haja dito ser preciso que nasças de novo. O vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde ele vem, nem para onde ele vai; o mesmo se dá com todo aquele que é nascido do espírito.
    "- Como pode isto fazer-se?
    "- Pois que! és mestre em Israel e ignoras estas coisas?
    "Digo-te em verdade que não dizemos senão o que sabemos, e que não damos testemunho senão do que temos visto, entretanto, não aceitais o nosso testemunho. Mas, se não me credes, quando vos falo das coisas da Terra, como me crereis, quando vos fale das coisas do Céu?" (João, cap. 3 vs. I a I 2. )
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    Neste diálogo, Jesus ensina teoricamente a reencarnação. Nicodemos pensou no mesmo corpo nascendo de novo (o que  não é possível). Jesus corrigiu esse erro: "o que é nascido da carne é carne", o corpo segue a lei
 natural da decomposição da matéria; reafirmou que para "entrar no reino de Deus" (alcançar planos espirituais elevados) há necessidade de renascer tanto da água (símbolo da matéria) como do espírito; ou seja, reencarnar no
 mundo material mas também renovar-se intimamente, progredir. Usou o ar (pneuma, símbolo do elemento espiritual) como comparação para explicar que sentimos a presença e manifestação do espírito reencarnado, através do seu novo corpo, mas não podemos identificar de onde veio (o passado é providencialmente esquecido) nem apontar-lhe um futuro (vai depender do seu livre-arbítrio).
    2. Jesus afirma duas vezes que  João Batista era Elias reencarnado
    a) Após dar seu testemunho sobre João Batista.
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    - Desde o tempo de João Batista até o presente, o reino dos céus é tomado pela força e são os que se esforçam que se apoderam dele; porque todos os profetas e a lei profetizaram até João.
    E se quereis reconhecer, ele mesmo é Elias que estava para vir. Ouça-o aquele que tiver ouvidos de ouvir. (Mateus, 11 vs. 12/15.)
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    b) Na transfiguração.
    Quando Jesus se transfigurou, apareceram ao seu lado, conversando com ele, Moisés e Elias, ambos espíritos há muito desencarnados.
    As profecias diziam que Elias tinha de vir antes do Cristo...
    Se Jesus era o Cristo, como é que Elias ainda estava no plano espiritual?
    Para esclarecerem essa dúvida, os discípulos perguntaram a Jesus:
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    - Não dizem os escribas ser preciso que antes volte Elias?
    - É verdade que Elias há de vir e restabelecer todas as coisas; mas eu vos declaro que Elias já veio e eles não o reconheceram e o trataram como lhes aprouve. É assim que farão sofrer o Filho do Homem.
    Então, os discípulos compreenderam que fora de João Batista que ele falara. (Mateus, 17 vs. 10/13; Marcos, 9 vs. 11/13.)
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    Reencarnando como João Batista, Elias voltara à Terra e fizera o seu papel de precursor do Cristo. Depois, fora decapitado e retornara ao mundo espiritual de onde agora se apresentava de novo, ao lado de Jesus e à vista
 dos seus discípulos, num fenômeno de materialização.
    IV. CONCLUSÕES
    Estudando racionalmente a teoria da reencarnação:
    - encontramos argumentos filosóficos, científicos e religiosos a embasá­-la;
    - reconhecemos ser ela uma lei divina a nos ensejar o progresso incessante (pois é porta sempre aberta aos nossos esforços evolutivos);
    - verificamos que nela se evidenciam de modo sublime o poder, a justiça e a bondade de Deus.
    "Nascer, Morrer, Renascer, ainda e progredir sempre, tal é a lei". (Frase que se encontra no dólmen do túmulo de Allan Kardec, em Paris.)
 
 Livros consultados:
 De Allan Kardec:
 - "O Evangelho Segundo o Espiritismo", cap. IV.
 - "O Livro dos Espíritos", 2ª parte, cap. IV.
 Da Bíblia:
 - "Novo Testamento".
 De Gabriel Delanne:
 - "A Reencarnação".
 De Torres Pastorino:
 - "A Sabedoria do Evangelho", 3° e 4° volumes.
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Livro: "Iniciação ao Espiritismo", Therezinha Oliveira

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