ESPIRITISMO E ÉTICA
O Espiritismo revitaliza a
ética moral baseada nas lições insuperáveis de Jesus Analisando-se a situação
socio espiritual do planeta na atualidade, não há como negar-se a presença da
destrutiva onda de pessimismo e utilitarismo que domina as criaturas humanas em
toda parte. Apoiados no niilismo, embora os comportamentos rotulados de
religiosos de alguns dos seus segmentos sociais, o cinismo das pessoas e a
decadência da ética dão-nos a dimensão do desespero que avassala as mentes e os
corações atormentados. Em consequência, a violência e o despautério, a
drogadição e o erotismo substituem as aspirações de enobrecimento dos seres,
como mecanismos escapistas para preencher o vazio existencial e o desencanto que
se apossaram do século XX, que se desenhava com perspectivas iluministas,
libertadoras, ricas de anseios de felicidade e de beleza. A amargura toma conta
dos indivíduos que se sentem coisificados, enquanto a revolta arma as multidões
desvairadas que se levantam contra os abusos do poder, as injustiças sociais, os
desregramentos dos dominadores, a desonestidade dos legisladores que perderam o
respeito moral, a liberdade e o direito de viver com o mínimo de honorabilidade
que seja…
Pode-se afirmar que a aparente calma que ainda
paira sobre algumas nações não esconde os paióis de explosivos prestes a
deflagrar o estouro prenunciador das tragédias que produz. Não se trata, porém,
de uma ocorrência inesperada, quando se observam as suas raízes plantadas no fim
do século XVIII, por ocasião da Revolução Francesa, quando a tirania substituiu
os ideais dos filósofos da liberdade, instaurando os dias do terror. Em
desesperada tentativa de manter a ordem na França, Robespierre, chamado “o
incorruptível”, que lutara pelos ideais da fraternidade, da liberdade e da
igualdade, não teve forças morais para resistir às pressões do desespero das
massas e de outros pensadores, mantendo a guilhotina a funcionar sem trégua, ao
ponto de tornar-se ultrajante ditador e sanguinário. Vítima de um golpe dos seus
adversários da Convenção, foi preso e também guilhotinado. Nesse período
difícil, a morte de Deus foi anunciada, e a revolta retirou os vestígios da Sua
presença no país, inclusive mudando os nomes de ruas, boulevards e praças que os
tivessem de santos ou denominações religiosas, assim como os objetos de culto
das igrejas, tentando apagar a lembrança da fé e da crença espiritual no
território francês. Logo depois, com o retorno de Deus através da Concordata de
1802, firmada por Napoleão Bonaparte com o Vaticano, permaneceram os ódios e
resquícios do período de revolta e de perseguições inclementes, dando lugar a um
amortecimento ético dos sentimentos.
O Iluminismo em declínio favoreceu o Positivismo
em ascensão, enquanto as ideias pessimistas e destrutivas de Arthur Schopenhauer
espalhavam-se por toda parte, proclamando a desnecessidade de Deus e de qualquer
formulação religiosa no comportamento humano. À medida que o materialismo tomava
conta da cultura, a amargura doentia de Friedrich Nietzsche passou a comandar as
mentes e os corações desesperados, amparados no ceticismo científico das
Academias, que asseverava ser a alma uma sudorese cerebral que desaparecia com a
morte do encéfalo.
Nessa paisagem de morbidez e desencanto, o
ateísmo tornou-se a diretriz comportamental dos indivíduos, que logo depois se
atiraram à guerra perversa de 1869-1870, que ressurgiu entre 1914- 1918 e
retornou calamitosa entre 1939-1945, com as mais inacreditáveis cargas de ódio e
destruição de que a História tem notícia. Muito contribuíram para essa tragédia
as ideias do super-homem do referido Nietzsche e o pensamento de Heidegger, que
muito influenciou o surgimento do nazismo, partido ao qual ele se filiou por
algum tempo, embora rompendo depois, quando da perseguição aos professores
judeus da Universidade de Freiburg, onde era reitor… A ética do mais forte
substituiu a dos direitos humanos e da dignidade, em face da aristocracia do
poder totalitário e insano de alguns governantes… Heidegger influenciou
filosoficamente Jean-Paul Sartre com o seu pensamento sobre o ser, servindo de
inspiração para o existencialismo e total desinteresse pelos valores
ético-morais que conduziram a civilização ao largo dos séculos. Viver agora e
fruir ao máximo, não poucas vezes sem qualquer respeito pelos direitos dos
outros, cultivar o prazer até a exaustão, passaram a ser os comportamentos
aceitos e divulgados como recurso valioso para a preservação da vida e das
experiências de alegria e de bem-estar. Lamentavelmente, as religiões ortodoxas,
incapazes de oferecer resistência filosófica e ética aos absurdos da nova ordem,
por se manterem fiéis aos programas medievais totalmente ultrapassados, foram
desprezadas e consideradas responsáveis pela miserabilidade do ser humano, pelos
seus desaires, pelas suas amarguras.
Carregado pelas heranças teológicas do pecado e
da culpa, o ser humano rompeu com as tradições enganosas e preferiu arrostar as
consequências da sua liberdade, derrapando na libertinagem. Sucede que, toda vez
quando se arrebentam as algemas da escravidão de qualquer tipo, a ânsia de
liberdade é tão grande que, por desconhecimento dos seus limites, aquele que a
aspira tomba nos resvaladouros da irresponsabilidade, da agressividade aos
direitos alheios, do abuso desrespeitoso… Assim ocorrendo, desaparece a ética da
conduta para apresentar-se o direito de exceção, colocando-se o indivíduo acima
da lei, da ordem e de qualquer restrição. Os avanços da Ciência, demitizando
algumas das informações e dogmas religiosos, os milagres de Jesus, que passaram
a ser observados do ponto de vista das doutrinas psicológicas e
parapsicológicas, reduziram a cultura ao materialismo, desde 1859, quando
Charles Darwin, através do Evolucionismo, aplicou o golpe de misericórdia no
mitológico Criacionismo bíblico, servindo de suporte para a vitalização do
ateísmo… A contribuição da Tecnologia, alargando e aproximando os espaços e as
distâncias, facultando a demonstração dos postulados científicos através das
experiências dos fatos, foi fundamental para a indiferença humana pelos códigos
de dignidade e de valorização da própria vida.
O século XX, portanto, herdeiro da revolução
filosófico-científica do passado, rapidamente aceitou o novo comportamento que
se consolidou durante a revolução hippieísta dos anos 60, quando se deram as
grandes mudanças de conduta, e as tradições nobres como a família, o casamento,
a dignidade, a ordem passaram a ser instituições ultrapassadas. Irrompendo em
avalancha avassaladora, tomou conta da juventude, que se sentia castrada pela
intolerância e pelo poder dominador, passando a constituir um novo mundo, um
modo diferente de vida… O aborto, a eutanásia, o suicídio, a agressividade,
passaram a ser éticos na linguagem nova, que iria culminar nos homens e mulheres
bombas, nos atentados terroristas, no crime organizado, na violência urbana, no
alcoolismo exacerbado, no tabagismo, na drogadição e no sexo destituído de
qualquer sentido moral e afetivo. Dando-se largas aos instintos primários, o
nadaísmo, estimulando o erotismo, coisificou os seres humanos, que passaram a
vender-se no mercado da luxúria sem qualquer pudor, sob o disfarce de
experiências artísticas, desde que economicamente rentáveis. Nesse comércio
hediondo, em que pouquíssimos logram alcançar os patamares elevados, multidões
de jovens inexperientes são devoradas pelas máfias que o administram, passando
os tratores da indiferença sobre os corpos e as almas mutiladas daqueles que
ficaram vencidos durante as tentativas iniciais. Inevitavelmente, houve uma
total decadência ética da cultura e da civilização, que passaram a adorar os
novos deuses do prazer e do engodo, da utopia e da mentira, embora vivendo-se o
vazio existencial que leva à depressão e ao suicídio.
Nada obstante, nesse ínterim, surgiu o
Espiritismo em 1857, revitalizando a ética moral, baseada nas lições
insuperáveis de Jesus, que foram corrompidas pelas ambições e conchavos humanos
através dos séculos, desde o dia em que se uniram ao Império Romano, passando de
perseguidas a perseguidoras. Com a revelação dos imortais, a vida passou a ter
sentido profundo e significado psicológico indiscutível, como decorrência da
proposta filosófica erguida pelos pilotis dos fatos demonstrativos da
imortalidade da alma, da vida futura, da justiça divina e da Lei de Causa e
Efeito, responsável por todos os fenômenos humanos. A partir de então, embora
lentamente, vem sendo restaurada a proposta do amor como sendo a fonte
inexaurível para a felicidade, em razão dos seus conteúdos otimistas e
realistas, que dignificam a espécie humana, proporcionando-lhe os necessários
estímulos para desenvolver-se e atingir as culminâncias da iluminação pessoal.
A falência do novo comportamento niilista
encontra-se em toda parte, porque a sua doutrina enganou os seus adoradores,
conduzindo-os às aflições superlativas e às angústias dantes jamais vivenciadas.
Aturdidas, essas multidões decepcionadas e sem rumo buscam, mesmo sem o saber,
retornar às origens do bem e da alegria, ao encontro da pureza de sentimentos e
de convivência nobre, sentindo falta da fraternidade que deve sempre viger entre
os seres humanos, sequiosos de paz e de esperança. Ninguém pode viver em
equilíbrio sem a bênção confortadora da esperança que abre perspectivas formosas
para o futuro. O Espiritismo, portanto, possuindo os paradigmas que foram
deixados para trás pelo anarquismo e ceticismo, apresenta-os como propostas que
levam à ética do dever e da harmonia, propiciando ventura. A crença em Deus, a
crença na imortalidade da alma, a crença na comunicabilidade dos Espíritos, a
crença na reencarnação, a crença na pluralidade dos mundos habitados e as
propostas ético-morais de O Evangelho segundo o Espiritismo, que proporciona uma
releitura das lições insuperáveis de Jesus, conforme as conhecemos em as
narrativas dos evangelistas, são as novas diretrizes para a construção do ser
humano feliz e da sociedade ditosa que todos aspiram. Não há outra alternativa,
exceto a coragem para superar a crise moral que domina praticamente toda a
sociedade contemporânea, reflexionando e vivendo a vigorosa ética espírita, que
resume as mais grandiosas formulações da ancestral diante das novas necessidades
que tomam conta da sociedade. Revigorada, a ética lentamente ressurge e passará
a comandar os destinos humanos na direção da paz e da alegria de viver mediante
o correto culto dos deveres.
Vianna de Carvalho
(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira
Franco, em Boca Raton, Flórida, EUA, na manhã de 24 de junho de 2009.)