11.4.25

Entrevista com Albert Paul Dahoui

Escritor de "A Saga dos Capelinos".
A Jornada: Você vem de uma família Espírita? Como foi seu início no Espiritismo?
Dahoui: Minha família foi muito interessante em termos religiosos, mas não me deu nenhuma base religiosa. Eu fui educado pelos meus avôs paterno, e mesmo sendo pessoas que acreditavam em Deus, não eram de freqüentar igrejas ou templos. Meu avô Albert foi um pouco de tudo. Como era diplomata, foi budista quando esteve na Índia e na China, foi Espírita de freqüentar mesas espíritas, mas acabou morrendo Protestante. Eu sempre digo brincando que ele morreu protestando, pois achava que ainda tinha mais dez anos de vida: a cigana o enganou, literalmente. Já meu pai tornou-se espírita no Brasil e o é até hoje, sem contudo freqüentar centros, mesmo que já o tenha feito em passado distante.
Eu me tornei espírita em 1969, com vinte e dois anos. Eu nunca recebi nenhum tipo de educação religiosa em casa, portanto a minha primeira influência foi a igreja católica, pois estudei no Colégio Marista de Recife, e lá fui devidamente catequizado (ninguém é perfeito!). Aos dezessete anos, tornei-me ateu, daqueles que podem dizer que não eram à toa. Era fanaticamente materialista, procurando através da ciência as explicações físicas e metafísicas para a vida.
Em 1969, aos vinte e dois anos, comecei a namorar minha primeira esposa e ela era espírita. Da umbanda, mesmo que muitos puristas hão de dizer que Umbanda não é espiritismo do tipo kardecista. Sem maiores polêmicas, ela era espírita, pois lia e conhecia bem Allan Kardec. Após muita insistência de minha parte, acabei sendo levado ao seu centro, quando - pasmem - tive uma manifestação interessantíssima. Um espírito incorporou-se, como se diz no linguajar comum, e me arremessou contra o chão, após um vôo sensacional. Assim que me levantei, já livre da incorporação, meu corpo todo tremia, mesmo que jamais estive tão calmo quanto naquele momento. Pensei comigo: ou enlouqueci ou existe algo nessa coisa toda que preciso descobrir. Alguns dias depois, entrava para o centro de Umbanda. Isso foi em 26 de julho de 1969. Como é que sei? Era festa de Santana.
A Jornada: Qual é o seu envolvimento com o movimento Espírita?
Dahoui: Depende como se vê esse assunto. Na realidade, eu continuo no mesmo centro desde aquela época, com intervalos para viagens, mudanças de cidade e outros contratempos. Sou apenas um médium da casa, sem nenhum posto especial, e aliás nem quero mais do que isso. Portanto, não participo de nenhum movimento espírita tradicional. Aliás, nem sei se existem, pois não estou a par de nenhum deles em específico, a não ser aqueles de caridade que vários centros fazem de acordo com seus calendários.
A Jornada: Possui algum tipo de mediunidade? Como lidou com ela no inicio?
Dahoui: A mediunidade que acabei por desenvolver, lenta e gradativamente, foi a de incorporação. Desde o início, como eu era materialista e tinha entrado para o centro por curiosidade intelectual, eu levei muitos anos para acreditar de fato em tudo que me acontecia. Aliás, até hoje, eu continuo colocando em dúvida tudo que leio, escuto e sinto. Como sou muito racional, analiso tudo com grande cautela e tornei um adepto do não-radicalismo, pois já aconteceu de hoje acreditar em coisas que ontem duvidava, e vice-versa.
A Jornada: Possui Livros publicados?
Dahoui: Tenho nove livros publicados. Trata-se de uma série de sete livros chamado A Saga dos capelinos (a queda dos anjos, a era dos deuses, o primeiro faraó, os patriarcas de Yahveh, Moisés o enviado de Yahveh, Jesus o divino discípulo e Jesus o divino mestre). Todos são romances. Um oitavo livro me foi solicitado pelo editor e é o único não-ficção chamado The Making of A saga dos capelinos, que explica como foram escritos os livros, o raciocínio utilizado etc. O nono livro é Shiva a alvorada da Índia, que é um romance também.
Todos os meus livros são ficção, baseados em pesquisas históricas (desk-research) e na tentativa de explicar os mitos, as lendas, através da história e dos fenômenos espirituais. Para horror de muitos dos meus leitores, que imaginam que sou um veículo da alta espiritualidade, os livros não são psicografados e acho que nem mesmo foram intuídos por nenhum mestre espiritual. Se foi, pelo menos não senti nada de especial. Como sei? Todos os meus livros foram escritos e rescritos pelo menos três vezes. Se fosse algo espiritual, teria vindo bem mais pronto, sem tantos erros que me obrigaram a reescrever tantas vezes. (Saibam que é comum um escritor reescrever várias vezes um livro - Ernest Hemingway reescreveu Adeus às Armas, 36 vezes até chegar ao original.)
A Jornada: Como seus livros foram recebidos pelo meio espírita? Foram bem aceitos?
Dahoui: Meu editor Alexandre Rocha da Editora Lachâtre ficou preocupado com a possível recepção negativa do público espírita. Para tanto, abriu um selo novo chamado HERESIS e lançou meus livros. Mas a receptividade foi boa e público espírita de modo geral recebeu bem. No entanto, o brasileiro não tem o hábito do americano e do europeu de criticar. Quando não gosta, não externa, o que é uma lástima. Prefiro receber uma crítica ferrenha e até mesmo mal educada do que um elogio. Claro que o elogio 'massageia' o ego, mas não me aprimora nem como pessoa nem como escritor. Quando eu recebo uma crítica, eu me aperfeiçôo, e isto é fundamental para mim. Portanto, amigos, critiquem tudo. Mandem-me e-mail falando tudo que você quiser (adahoui@yahoo.com.br).

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