22.6.23

Rita Lee está no Céu

A cantora e compositora Rita Lee desencarnou em 8 de maio de 2023 aos 75 anos de idade. Ícone do rock brasileiro e a mulher que mais vendeu discos no País, a ovelha negra da família sempre foi uma artista original. Vai fazer falta como faz falta todos que ousam ficar acima da mediocridade. Se tem um toque então de genialidade...
A irreverência de Rita Lee estava na condição dela ser ela mesma em tudo que fazia. Não tinha papas na língua quando desejava se posicionar sobre algum assunto. Isso fez com que ela fosse presa pela ditadura militar e arranjasse alguns inimigos na época que desejava ver na figura da mulher alguém bem comportada. E ela definitivamente não era. 
Nos anos 1980 e 1990, seu talento explodiu no cenário artístico brasileiro. Sucesso em cima de sucesso fez dela uma unanimidade pop. 
Sua autenticidade a levou a tropeços na vida. Seu vício nas drogas, por exemplo, debilitou grandemente a sua saúde e prejudicou a sua carreira profissional. Poderia ter feito mais. 
Um dia a fatura dos excessos chegou para cobrar a conta. E foi cara demais! 
Um câncer valente, qual erva venenosa, invadiu seu corpo e pouco a pouco fez moradia definitiva no seu palco físico. 
A verdade é que todos respondem por aquilo que faz a si e aos outros. Com ela não foi diferente. Nem por aqui e também não será no mundo de lá. 
As lições da quimioterapia incrustaram na sua alma e serviu para ela aprender a superar as suas deficiências por meio da dor. Duro amadurecimento. 
Espiritualizou-se a sua maneira! 
E essa é a boa notícia nesse enredo que aqui descerro. 
Em sua “Outra Autobiografia”, lançada pouco antes de seu retorno, ela descreve em vários textos a sua saga de renovação íntima impingida pela doença feroz. 
Um deles, vale a pena destacar para o intento desta narrativa. 
No capítulo “A Viagem”, Rita Lee escreve sobre a sua experiência de desdobramento espiritual ocorrida quando estava internada no hospital. Em contato com a realidade extrafísica, ela flagra o que teoricamente já havia assimilado nas suas inserções esotéricas.
 
“E foi de repente que me vi saindo do meu corpo físico, embora estivesse totalmente consciente. Difícil descrever em palavras o que vi e senti quando fui parar na presença de uma esfera flamejante multicolor. No primeiro segundo senti medo, mas no segundo seguinte fui envolvida por um amor tão imenso que me entreguei por inteira àquela aparição e, a partir de então, fui inundada de revelações e visões nunca dantes imaginadas por mim.
 
Meu lado são Tomé recebeu a prova que sempre esperou para crer que de fato a vida só começa mesmo quando nos transformamos em espírito. O “outro lado”, ou seja, as Dimensões de Luz, nos é muito mais familiar do que este lado onde vivemos presos dentro de corpos densos.
 
(...) Antes mesmo de nascer, minha vida inteira fora programada por mim junto aos mestres de Luz que conhecem e servem ao propósito Divino. Agora só resta cumprir meu darma neste corpo físico que, no momento, é tratar e vencer o câncer.” 
Não venceu! Esse contato nu e cru com a transcendência, no entanto, foi transformador para seu preparo de reinserção à dimensão do espírito. 
Rita Lee não morreu, ela está no céu. No céu de si mesma. 
Em “Epílogo”, do mesmo livro, ela declara:
 
“De repente, olhei para o céu e ele me disse: você vai brilhar como a Estrela...
A Lua me avisava dos inimigos ocultos que rodeavam feito lobos famintos, tentando acabar comigo...
But here comes the sun, o Sol despejando sobre minha cabeça o contentamento de estar viva...
E me incluía no julgamento dos justos, subindo aos céus com todos os meus pecados perdoados...
E lá de cima eu contemplava o Mundo agradecendo o sucesso que tive brincando de música...” 
Mutante por natureza, qualquer dia ela pinta por aí para dizer:
 
Como vai você? Desculpe o auê, sei que nunca fui santa, mas vim aqui para dizer que a vida é um caso sério. Estou bem! Como sempre disse, não queria luxo nem lixo, meu sonho era ser imortal. E sou!
 
E somos! 
Carlos Pereira - Blog do Carlos Pereira

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