21.5.24

A BRANDURA

Asserena-te e vara a desventura
No caminho de dor, áspero e azedo ;
Serenidade – o lúcido segredo
Em que a vida se eleva e transfigura.
 
Tudo cresce na força da brandura.
A água desgasta os punhos do rochedo ;
Olha a chuva cantando no arvoredo,
A transfundir-se em pão, bondosa e pura.
 
De coração batido e lodo à face,
Inda que o fel da injúria te traspasse,
Semeia o bem que as mágoas alivia...
 
Mesmo trazendo o peito por cratera,
Suporta, ampara e crê, ajuda e espera,
Que amanhã será sempre novo dia.
Andradina América de Andrada E Oliveira*
(*) Poetisa, contista, romancista, iniciou sua vida literária, quase menina, conforme afirma sua filha Lola de Oliveira em Minha Mãe!, escrevendo em inúmeros periódicos sul-riograndenses. Foi também teatróloga e aplaudida conferencista. Professora pela Escola Normal de Porto Alegre, com distinção em todas as matérias, a poetisa de Folhas Mortas lecionou em cursos particulares, em várias cidades gaúchas, depois de nove anos dedicados ao magistério público. Fundou um jornal literário feminino, O Escrínio, mais tarde transformado em revista ilustrada, e formou, segundo Antônio Carlos Machado, entre as maiores feministas brasileiras de sua época. De 1920 até à sua desencarnação, residiu na capital paulista. (Porto Alegre, Rio Grande do Sul, 12 de Junho de 1878 – S. Paulo, 19 de Junho de 1935.)
BIBLIOGRAFIA: Folhas Mortas; Preludiando, contos; Cruz de Pérolas, contos ; etc.
Livro: Antologia dos Imortais - Francisco C. Xavier e Waldo Vieira.

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