24.9.13


O BENZEDOR E AS VERRUGAS

Comentávamos no Plano Espiritual sobre a situação atual do Movimento Espírita na Terra, lamentando tantos conflitos entre os irmãos de ideal e mesmo a ousadia de muitos que, ultimamente, de maneira inadvertida, o têm feito enveredar por sinuosos caminhos, quando Joaquim Cassiano, um velho amigo, tomando a palavra se pôs a falar:
- Conheci, outrora, no mundo, um excelente “benzedor” de verrugas... A sua casa, principalmente às sextas-feiras, vivia repleta de pessoas que lá compareciam a fim de terem as suas verrugas benzidas por ele.
Muitas crianças, conduzidas por suas mães e avós, revelando as mãos e os pés, e, às vezes, até o rosto, cobertos por aquelas  crostas que chegavam a sangrar, se beneficiavam com o poder de suas orações.
Pacientemente, sem nada cobrar por isto, ele ia atendendo às pessoas em fila, por ordem de chegada, sempre com um sorriso estampado na face.
Algumas verrugas caiam logo na primeira benzição, outras, porém, precisavam, de fato, serem benzidas por três sextas-feiras seguidas – eram colônias de vírus mais resistentes, e que, por certo, se encontravam instaladas há mais tempo.
Algumas crianças tinham medo de seu aspecto meio estranho, porque, embora se trajasse com simplicidade, como quase todo benzedor, ele não parecia ser uma pessoa do mundo.
A sua fama tanto se espalhou que gente de todas as partes ia procurá-lo, sendo, vários deles, portadores desses pequeninos quistos de virulência até em suas partes mais íntimas, como, por exemplo, no coração.
Sim, porque, conforme sabemos, existem verrugas externas e internas, com as internas se mostrando muito mais difíceis de serem curadas, exigindo benzições extras.
O poder espiritual do referido benzedor, que atendia a multidão numa casinha muito pobre, era tão admirável que dispensava o auxílio de qualquer galho de arruda, guiné, ou outro expediente parecido – presenciei que, não raro, bastava leve toque de sua abençoada mão, ou um simples olhar seu, para que as verrugas, como que trevas se envergonhando na presença da luz, começassem, espontaneamente, a regredir...
Interessante é que ele chegava a ser procurado até por quem não possuía verruga alguma, mas que tinham medo de que esses pequeninos tumores, que podem se tornar extremamente agressivos, de hora para outra, pudessem lhes aparecer.
Durante muitos anos, aquele famoso benzedor do interior de Minas Gerais, praticamente criado na zona rural, que deve ter aprendido o seu ofício com benzedores mais antigos que ele, se dedicou à tarefa de benzer verrugas, impedindo que elas se transformassem em coisa pior.
Vocês sabem, existem benzedores para benzer todas as espécies de males: quebranto, cobreiro, espinhela caída, olho excomungado, erisipela, vento virado, peito arrotado, e vai por aí afora...
Mas, como nada se eterniza na Terra, um dia, aquele humilde homem de fé desencarnou, e, então, as verrugas voltaram a infestar as mãos e os pés, o rosto, e até, segundo dissemos, o coração de muitos que ainda não haviam conseguido desenvolver em seu organismo eficiente defesa contra elas...
Joaquim Cassiano fez significativa pausa e, ante o nosso respeitoso silêncio, concluiu a sábia metáfora:
- Este incansável benzedor de verrugas era Chico Xavier, e as verrugas, meus amigos, infelizmente, somos nós, os espíritas personalistas, que não vemos o que estamos fazendo com o corpo da Doutrina!...

INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 23 de setembro de 2013.

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