26.8.13

Libertação dos Povos
Vejo, com pesar, tudo que se desenrola na Síria, bem como em outros países do Oriente Médio. O Egito, então, vive em ebulição permanente nos últimos tempos. A chamada Primavera Árabe trouxe muitas alegrias no instante em que depôs ditaduras e, em seu lugar, ensaiava a instalação do regime democrático. 
É claro que a ausência de democracia fez com que estes povos esquecessem um pouco como expressar, de maneira equilibrada, a liberdade conquistada. Assim, de uma forma ou de outra, mesmo sem querer, passaram a repetir os mesmos vícios dos regimes que ajudaram a combater. É natural, portanto, no processo de aprendizagem democrática.
O que vemos na Síria, porém, é morticídio coletivo. Há assassinatos bárbaros e a comunidade internacional apenas protesta, mas não age. Fica observando no que vai dar, enquanto isso, milhares de pessoas morrem e tudo fica impunemente. É lamentável.
No Egito, sob o pretexto de preservar a democracia, retiraram o presidente eleito, mas em seu lugar, em vez de trazer a bonança, irmãos egípcios estão assassinando duramente outros irmãos. Meu Deus, até onde isso vai dar...
Penso, meus irmãos, que o homem, pouco a pouco, vai entender que a liberdade é bem fundamental para a humanidade e nesse dia não fará nada que prejudique a expressão da liberdade do outro. Quando se adquire a liberdade, quando ela naturalmente se consolida como bem maior de uma nação, é esperado que se busque mais. Geralmente, pede-se igualdade e justiça.
Igualdade está muito próximo de justiça, pois dar a cada um o que ele merece é desafio grande, mas duradouro de se conseguir. Vejo que no mundo inteiro, a maioria das nações patina nestas conquistas. Bem, é claro, que existe ainda, em muitas delas, a manutenção de privilégios para grupos restritos ou a preservação de regras de exclusão que dificultam o acesso das gentes aos bens mínimos para sobrevivência.
Meus queridos irmãos, no nosso Brasil não é diferente. Apesar de termos avançado bastante nas duas últimas décadas, ainda é grave a nossa situação. O povo quando vai às ruas em forma de protesto é porque se tem muito ainda a fazer. Se avançamos no campo democrático, graças a Deus, não conseguimos implementar nas mesmas proporções avanços no campo social e econômico como poderíamos fazer.
Sei que as desigualdades diminuíram. Os governos que se sucederam criaram algumas condições de acesso da grande massa a bens de consumo e de livramento da pobreza absoluta, mas isto não é suficiente. O imprescindível é criar regras de acessibilidade para todos, a tal equanimidade de acesso ao progresso ou ao desenvolvimento, e, em igual necessidade, a melhoria da educação de toda a gente. Mas, educação de verdade, aquela educação libertadora e formadora de cidadãos.
Aí, minha gente, é deixar o tempo passar e verá que o povo, os mais humildes, vão conquistar o seu lugar, não recebendo esmolas, mas mostrando o seu valor, isto é conquista de cidadania.
Não é fácil, eu sei, mas é o único caminho possível de avanço de uma sociedade: justiça social e educação de qualidade para todos.
Eu lutei por isso e continuo lutando do lado de cá da vida, pois para mim é tudo muito claro, muito nítido, e não pensem que os homens poderosos não sabem disso, sabem sim, mas lutam, de maneira disfarçada para sabotar estas conquistas. O povo, porém, está de olho e não vai se deixar enrolar por discursos bonitos que não se cumprem.
A paz social somente é atingida quando temos povo com comida, casa para morar e condições de acesso aos bens mínimos, públicos e privados. O resto é conversa mole.
Minha gente, todos nós devemos cumprir com a nossa obrigação de ajudar, no que for possível, para criar essa sociedade de nossos sonhos, porque de braços cruzados ficarão todos a mercê da sorte ou da generosidade dos donos do poder que, logicamente, pouco ou nada farão para a emancipação definitiva dos mais pobres e oprimidos.

Deus nos abençoe!
Helder Camara

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